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Câmara de Ilhéus - Acompanha sessões remotas

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Bocão 64

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Cerca de 65,2 % dos municípios não têm medicamentos básicos nas farmácias, diz pesquisa


Mais da metade das farmácias brasileiras enfrentam falta de medicamentos básicos, de acordo com a segunda edição da pesquisa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), realizada entre os dias 1º e 29 de agosto.

O levantamento consultou 3.178 municípios que representam 57,1% do total de cidades. Os fármacos que mais estão em falta são antibióticos, em 89,4% das cidades, e medicamentos para transtornos respiratórios, representando 55,2% do total de municípios que participaram da pesquisa.

A escassez de medicamentos para o sistema nervoso chega a 41,9% em componentes básicos, já para componentes especializados a falta bate 41,7% dos lugares pesquisados. Os anti-hipertensivos com componentes básicos somam 40,5%, para o controle da diabetes a falta é um pouco menor com 33,4% dos municípios que responderam a pesquisa. Além disso, 23,7% dos participantes da pesquisa dizem que faltam outros medicamentos.

Para 57% das gestões municipais, não há prazo para normalizar o abastecimento desses medicamentos. Já para 27% dos gestores, a normalização deve acontecer entre 30 a 60 dias e 14% das gestões alegam que não há desabastecimento.

O presidente da CNM avaliou a situação como crônica: “É claro que não podemos negar que ainda podemos sentir os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia, mas não podemos justificar a omissão da área pública para resolver esse que é um problema gravíssimo e já se tornou crônico”, afirmou.

A CNM também questionou os municípios sobre a falta de medicamentos de alto custo, que são de responsabilidade dos estados e da União, e para 60,4% das cidades eles estão em falta.

Para 65,5% das administrações, não há prazo para acontecer o abastecimento dos medicamentos de componentes específicos e para 15,2% delas a normalização pode acontecer em até 30 dias.

Comparando o primeiro levantamento da CNM com o segundo é possível perceber uma melhora no abastecimento. Na primeira pesquisa, 81,4% dos municípios sofriam com desabastecimento. Agora, esse número é de 65,2%. Porém a falta de dados para a normalização do abastecimento de medicamentos básicos ainda atinge 57% dos municípios, enquanto 65,5% dos municípios relatam falta de medicamentos especializados.

A CNM afirma se preocupar com a situação atual, pois a população pode ser afetada no controle da diabetes por exemplo, e quadros infecciosos tratados com com antibióticos leves, que poderiam ser tratados em casa, podem levar ao aumento de internações hospitalares.

Outros itens como medicamentos para o sistema nervoso do componente básico 41,9%; medicamentos para o sistema nervoso do componente especializado 41,7%; anti-hipertensivos do componente básico 40,5%; medicamentos para controle da diabetes do componente básico 33,4%, e 23,7% dos municípios responderam que ainda faltam outros medicamentos.

Pesquisa Ideia para presidente: Lula tem 49% dos votos válidos; Bolsonaro, 38%


Pesquisa Exame/Ideia para presidente divulgada nesta quinta-feira (29) mostra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente, com 49% dos votos válidos; Jair Bolsonaro (PL) tem 38%.

Os votos válidos, que excluem os votos em branco e nulos, determinam o resultado das eleições. Nas disputas para presidente e governador, o candidato que atinge mais de 50% dos votos válidos vence as eleições no primeiro turno. Caso nenhum alcance esse percentual, é realizado um segundo turno.

Na sequência, aparecem Ciro Gomes (PDT), com 7%; e Simone Tebet (MDB), com 5%. Outros candidatos somam 1% dos votos válidos.

A pesquisa ouviu 1.500 pessoas por telefone entre os dias 23 e 28 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. Ela foi registrada na Justiça Eleitoral com a sequência BR-09782/2022.

Primeiro turno – votos válidos
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 49%
Jair Bolsonaro (PL) – 38%
Ciro Gomes (PDT) – 7%
Simone Tebet (MDB) – 5%
Outros – 1%

No cenário em que todas as respostas são consideradas, Lula tem 47% das intenções de voto, e Bolsonaro, 37%. Na sequência aparecem Ciro Gomes, com 6%, e Simone Tebet, com 5%.

Felipe D’Avila (Novo), Vera Lúcia (PSTU), Soraya Thronicke (União Brasil), Eymael (DC), Sofia Manzano (PCB), Leonardo Péricles (UP) e Padre Kelmon (PTB) não atingiram 1%. Votos brancos ou nulos somaram 1%, e os que não sabem ou não responderam, 3%.

Primeiro turno – votos totais
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 47%
Jair Bolsonaro (PL) – 37%
Ciro Gomes (PDT) – 6%
Simone Tebet (MDB) – 5%
Felipe d’Avila (Novo) – 0,4%
Vera Lúcia (PSTU) – 0,2%
Soraya Thronicke (União) — 0,2%
José Maria Eymael (Democracia Cristã) – 0,1%
Sofia Manzano (PCB) – 0,1%
Leonardo Péricles (UP) – 0,1%
Padre Kelmon (PTB) – 0,1%

Segundo turno – votos totais
A pesquisa também analisou cenários de segundo turno. No principal, entre Lula e Bolsonaro, o candidato petista aparece na frente com 52% das intenções de voto, contra 41% do atual presidente. Brancos e nulos representam 4%, e os que não sabem ou não responderam, 3%.

Cenário 1
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 52%
Jair Bolsonaro (PL) – 41%
Ninguém/Branco/Nulo – 4%
Não sabem – 3%
Cenário 2
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – 53%
Simone Tebet (MDB) – 20%
Ninguém/Branco/Nulo – 23%

Beber café pode reduzir o risco de doenças cardíacas e morte precoce, diz estudo


Beber duas a três xícaras por dia da maioria dos tipos de café pode protegê-lo de doenças cardiovasculares e uma morte precoce, segundo um novo estudo.

“Os resultados sugerem que a ingestão leve a moderada de café moído, instantâneo e descafeinado deve ser considerada parte de um estilo de vida saudável”, disse o autor do estudo, Peter Kistler, chefe de pesquisa de eletrofisiologia clínica do Baker Heart and Diabetes Institute e chefe de eletrofisiologia do Alfred, Hospital em Melbourne.

Pesquisadores descobriram “reduções significativas” no risco de doença cardíaca coronária, insuficiência cardíaca congestiva e acidente vascular cerebral para todos os três tipos de café. No entanto, apenas café moído e instantâneo com cafeína reduziu o risco de batimentos cardíacos irregulares chamados arritmia. O café descafeinado não diminuiu esse risco, de acordo com o estudo publicado quarta-feira (28) no European Journal of Preventive Cardiology.

Estudos anteriores também descobriram que quantidades moderadas de café preto – entre 3 e 5 xícaras por dia – demonstraram reduzir o risco de doenças cardíacas, bem como Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2 , doenças hepáticas e câncer de próstata.

“Este manuscrito se soma ao corpo de evidências de ensaios observacionais que associam o consumo moderado de café à cardioproteção, o que parece promissor”, disse Charlotte Mills, professora de ciências nutricionais da Universidade de Reading, no Reino Unido, em um comunicado. No entanto, este estudo, como muitos no passado, foi apenas observacional por natureza e, portanto, não pode provar uma causa e efeito diretos, acrescentou Mills, que não esteve envolvido no estudo.

“O café faz você saudável ou as pessoas inerentemente mais saudáveis ​​consomem café?” ela perguntou. “Ensaios controlados randomizados são necessários para provar a relação entre café e saúde cardiovascular”.

Pesquisa revela que 54% das mulheres subestimam importância da mamografia


O Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia como método de rastreamento para o câncer de mama, ou seja, exame de rotina, para mulheres sem sinais e sintomas na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos.

De acordo com o ministério, o Instituto Nacional de Câncer e a Sociedade Brasileira de Mastologia, o autoexame das mamas não é mais uma técnica recomendada às mulheres para rastreamento da doença. A orientação tem como base diversos estudos sobre o tema que demonstraram baixa efetividade e possíveis danos associados a essa prática.

No entanto, o autoexame ainda é considerado por muitas mulheres a principal forma de detectar tumores de mama precocemente. É o que aponta uma levantamento realizado pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas moradoras de cidade de São Paulo e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, já que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis. De acordo com a pesquisa do Ipec, 64% das mulheres consultadas afirmaram acreditar que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama em seu estágio inicial.

Além de desencontros sobre o papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas pela pesquisa também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia. O exame pode revelar possíveis lesões nos seios, especialmente em mulheres após a menopausa, além de detectar tumores menores que 1 cm.

Para 54% das mulheres que responderam ao inquérito, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38% disseram acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não souberam opinar.

Cerca de 51% das participantes também não estão cientes da regularidade do exame. Já 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.

“Ao fazer a apalpação e não encontrar nada, a mulher pode acreditar que as mamas estão saudáveis e deixar de fazer avaliações de rotina que detectariam um possível tumor precocemente. Quando a doença é diagnosticada no estágio inicial, ela é mais fácil de tratar, o que melhora o prognóstico e contribui para a redução da mortalidade”, afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.

Atualmente, os tumores de mama são a principal causa de morte por câncer entre as mulheres. Em outra frente, o levantamento também aponta que 33% das mulheres
ouvidas não têm informações adequados sobre a relação entre a idade e o câncer de mama: 10% nada sabem ou preferem não opinar a esse respeito, enquanto 8% acreditam que aquelas com 40 anos ou menos não precisam se preocupar com a doença e 13% estão convencidas de que as mulheres devem iniciar os exames de rastreamento apenas quando entram na menopausa.

Impactos da pandemia

Os dados da pesquisa indicam que o contexto da pandemia de Covid-19 continua a impactar o cuidado com a saúde feminina.

Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes do levantamento responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.

Considerando o total da amostra, apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses, número que cai para 26% tanto no Distrito Federal quanto em Belém. Quando se trata dos cuidados gerais de saúde, somente 17% das mulheres ouvidas pelo Ipec dizem que, durante a pandemia, realizaram seus exames de rotina com a mesma frequência habitual que mantinham anteriormente à Covid-19. Em Belém esse porcentual oscila negativamente para 11%. Além disso,
23% das entrevistadas nessa região afirmam ter retomado sua rotina de consultas e exames apenas neste ano.


O novo levantamento aponta, ainda, que uma porcentagem considerável de mulheres ainda não retomou suas consultas médicas e exames desde que a pandemia começou: essa é a situação de 7% das participantes, mas a taxa chega a 9% em Porto Alegre e no Recife.

“Temos discutido o afastamento das pessoas de seus cuidados médicos de rotina desde o começo da pandemia.

quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Novas práticas de ouvir nossos adolescentes


Muito se tem escrito sobre a escuta ativa nas escolas e sobre a importância de ouvir nossos adolescentes. Quando um aluno está na escola, ele é um todo, traz sua história, seus sentimentos, os desafios que está enfrentando. Escutar o estudante significa possibilitar a expressão dessas vivências, reconhecê-las e valorizá-las.

Muito se tem escrito sobre a escuta ativa nas escolas e sobre a importância de ouvir nossos adolescentes. Quando um aluno está na escola, ele é um todo, traz sua história, seus sentimentos, os desafios que está enfrentando. Escutar o estudante significa possibilitar a expressão dessas vivências, reconhecê-las e valorizá-las.

O aluno não é só as notas que obtém. É preciso ver o avesso, dar escuta para que ele se manifeste e ter olhos de ver o indivíduo por inteiro, não só como estudante que renderá um boletim. Assim como todos nós, o aluno é um aprendiz da vida. Um dos pilares da educação da Unesco, “Aprender a Ser”, significa que a escola deve possibilitar o desenvolvimento das potencialidades de cada um, o fortalecimento da personalidade do indivíduo de forma autônoma e com responsabilidade.

Saber ouvir o jovem é importante para que ele se sinta valorizado. O adolescente tem atitudes questionadoras na escola, nem sempre aceita essa escuta e prefere se comunicar com seus pares. Isso é ótimo, os amigos darão essa escuta.

Mas a escola pode dar suporte nesta fase repleta de desafios se souber dar a escuta e mostrar ao jovem que ali é seu lugar de pertencimento. Mais do que apenas ouvir, o colégio deve demonstrar interesse, vontade de ouvir o que eles têm para dizer. Essa é a essência do vínculo educador-aluno.

Rodas de conversa, assembleia, encontros com o educador que tem maior vínculo com o jovem, formação de grupos de auto-ajuda, são maneiras que o Colégio Pentágono encontrou para fornecer essa escuta ativa. Sempre atuando sem julgamentos, sem críticas aos pensamentos e opiniões. Mostrar disponibilidade e tempo para ouvi-los. Mas não é suficiente, é preciso olhar para aquilo que não é dito, que está presente, mas está oculto, escondido.

Nossos jovens que estão enfrentando dificuldades emocionais, agravadas pelas consequências socioemocionais da pandemia. Muitas vezes são questões que causam sofrimento e interferem no rendimento acadêmico.

Para auxiliar, o Colégio também ouviu e percebeu o jovem de uma maneira diferente. Com inspiração no formulário realizado pelo PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, tradução de Programme for International Student Assessment) para estudantes que fizeram esse exame, a Equipe Pedagógica elaborou um formulário aplicado do 6º ano à 2ª série do Ensino Médio. As questões envolviam preferências, dificuldades, percepções de bullying, satisfação com a vida. Para as respostas, havia 4 alternativas com gradação, em uma série de palavras que indicava a intensidade que sentiam para cada situação proposta.

A análise das respostas nos deu luz para novos encaminhamentos às questões coletivas das classes e também às individuais. Em alguns jovens, a reflexão realizada ao responder esse formulário proporcionou o autoconhecimento e a identificação de suas emoções e mesmo a promoção de escolhas.

Aos educadores, resta a reflexão se ainda são válidas as palavras do escritor brasileiro Rubem Alves, falecido em 2014, em seu texto Escutatória: “Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular.”

Mulher sofre abuso no PA e tem que escolher: 'Tiro na mão ou raspar cabeça'


A podóloga Nathalia Rodrigues, 22, denunciou nas redes sociais ter sofrido um sequestro em que, além de ter sido roubada e abusada sexualmente, teve que responder aos criminosos se "escolheria" levar um tiro na mão ou ter o cabelo raspado antes de ser libertada, em Belém. A jovem teve quase toda a cabeça raspada e decidiu adiar o casamento e a conclusão do curso universitário de enfermagem, previstos para os próximos meses.

O crime ocorreu na manhã de sexta-feira (23), no bairro Val-de-Cães, quando ela saía de casa para seguir ao trabalho, por volta das 7h da manhã. Ela diz ter sido abordada por um homem que acompanhava um segundo criminoso que dirigia um onix peliculado verde.

Ele apontou uma arma para mim e me puxou para dentro do carro", lembrou a mulher em entrevista ao UOL. Ela conta que, durante toda a ação, os bandidos ameaçaram matar a jovem e seus familiares, além de assediá-la sexualmente.

"O bandido que estava comigo ficou passando a mão pelo meu corpo e disse que eles poderiam até ser presos, mas que, quando saíssem, viriam atrás de mim e da minha família".

Nathalia conta que a dupla ficou por pelo menos uma hora rodando de carro com ela pela cidade, tempo em ficou sob a mira de um revólver. Ao final, eles pediram que ela escolhesse entre ter a cabeça raspada ou levar um tiro na mão.

Fui torturada e ameaçada. Como 'escolhi' raspar a cabeça para não receber um tiro, o bandido que estava comigo pegou uma máquina e começou a raspar o meu cabelo. Fiquei tão nervosa que só consegui olhar para a arma que ele estava me apontando. Ainda estou sem acreditar".

Nathalia foi abandonada em uma rua do bairro Pedreira e teve documentos, celular e aliança roubados.

Crime "encomendado"?
Nathalia conta ainda que, em determinado momento, um dos criminosos disse que a ação seria uma resposta "a um B.O.".

Segundo a podóloga, ela suspeita que o crime tenha relação com a denúncia que fez, no mês passado, sobre um material que recebeu na porta de casa, após pedir demissão do antigo trabalho — ao qual ela se refere como "macumba" e atribui o envio à antiga empregadora.

"Ligaram para a clínica onde eu trabalho e perguntaram se eu estava trabalhando, possivelmente para saber se eu estava em casa para receber. Um tempo depois chegou um "tacho" de barro com imagens e esculturas de santos e a minha foto junto embrulhada para presente", contou. No material, segundo a mulher, ainda havia farofa no fundo do recipiente, um boneco de vudu espetado, caixões, velas, caveiras e uma escultura de tranca rua, sem bilhete.

Nathalia trabalhou por três anos na clínica Carinho do Pé e, em fevereiro deste ano, resolveu pedir demissão, segundo ela, por se sentir pressionada e não gostar do tratamento que recebia.

Por meio do advogado da clínica, Américo Leal Filho, a proprietária negou envolvimento no caso e atribuiu a acusação ao fato da empresária ser umbandista e a uma possível demonstração de visão distorcida da religião de matriz africana.

Minha cliente desconhece totalmente as alegações e recebeu a notícia com choque por que não tem esse tipo de comportamento e nunca passou pela cabeça dela fazer mal a funcionárias ou ex-funcionárias, pelo contrário, é uma profissional que trabalha há 17 anos e formou várias profissionais, que trabalham, têm suas clínicas, ganham seu dinheiro e são muito gratas ela por isso. [...] A umbanda não faz despacho e manda para a casa de ninguém. Não se faz despacho e manda, a umbanda é uma religião que profetiza a paz, Deus e o bem do próximo. Isso claramente mostra uma visão distorcida do que é a religião.

De acordo com a Polícia Civil, o inquérito está sendo presidido pelo delegado diretor da Seccional da Sacramenta, Arthur Nobre. Por meio da assessoria do investigador, foi informado que a proprietária da clínica apontada pela vítima prestará depoimento à polícia nos próximos dias.

Segundo a assessora Raquel Valente, a versão dela será prestada posteriormente ao depoimento de um grupo de ex-funcionárias que também alegam ter recebido "despachos" semelhantes ao que foi descrito por Nathália Rodrigues. Ao menos três delas serão ouvidas nesta quarta-feira (27).

Macumba ->  (instrumento de percussão) e macumbeiro são usados de forma pejorativa, mas também nomeiam um culto religioso de matriz africana e seus praticantes, que buscam dar novo sentido às palavras.

Casamento suspenso
A podóloga Nathalia Rodrigues estava com casamento marcado para o dia 17 de dezembro e, após o trauma do ocorrido, decidiu adiar a data. Ela também iria se formar em enfermagem no início de 2023, mas decidiu adiar os estudos.

"Eu e meu noivo estávamos planejando tudo, casaria em Mosqueiro porque nosso sonho era casar na praia. Era algo que sonhamos juntos e não vou conseguir ficar entregue nesse momento. Nas fotos e filmagens, não quero me lembrar desse momento assim (sem cabelo)", afirmou.

Após o ocorrido, a podóloga conta que está com medo de sair de casa, diante das ameaças.

"Estamos com medo do que possa acontecer com a gente. Não estamos saindo de casa e quando fazemos isso, tentamos sair em grupos maiores para tentar nos proteger".

Não acredito que chegou a esse nível de fazer uma coisa dessas. Conseguiram que eu interrompesse meu sonho de me formar na faculdade e o meu casamento, atingiram todas as áreas da minha vida. Psicologicamente mexeu com minha aparência, quando eu olhar no espelho e vir que não tenho cabelo. Não quero casar dessa forma porque sempre vou lembrar de tudo que passei quando olhar as fotos.


Sob comando de Soane Galvão, Ilhéus sobe 250 posições em ranking que avalia desempenho econômico de cidades brasileiras


Desde agosto de 2021, quando assumiu a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Ilhéus, Soane Galvão mostra eficiência e forte articulação política. O trabalho à frente da pasta foi realizado até o mês de abril, período necessário para que ela tivesse o reconhecimento do Centro de Liderança Pública (CLP), que apresentou levantamento contendo 415 cidades brasileiras acima de 80 mil habitantes.

Sob a liderança de Soane, Ilhéus deu um salto de 250 posições na dimensão econômica, saindo da 332ª para a 82ª colocação no Ranking Geral de Competitividade dos Municípios, com destaque para os pilares Inovação e Dinamismo Econômico e Capital Humano. No indicador Crescimento da Renda Média do Trabalho Formal a cidade ocupa o 4º lugar.

Ainda que a sua passagem tenha durado pouco menos de um ano, a candidata a deputada estadual pelo PSB promoveu um verdadeiro boom nas áreas ligadas diretamente ao crescimento produtivo, tecnológico e científico do município.

É uma alegria enorme ver o trabalho dando bons frutos. Esses resultados são como engrenagem, porque dão forças para que a gente continue assegurando melhores condições de vida e bem-estar ao nosso povo”, declarou Soane.

A postulante à Assembleia Legislativa da Bahia garante que todas as ações tocadas em Ilhéus são demonstrações do que poderá fazer por toda a região sul, sudoeste e extremo sul do estado.

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Os filhos estão sendo educados com excesso ou falta de amor?


Quando o assunto é educação, surgem as dúvidas: estamos educando os filhos com falta ou excesso de amor?

Diante de um mundo em que predomina o desequilíbrio econômico, o qual alguns países possuem excesso de riqueza e outros a escassez de recursos, as pessoas acabam se acostumando a conviver com essas diferenças; muitas vezes, deixam de perceber as consequências. Na formação dos filhos, também, podemos ver excessos ou escassez nos relacionamentos. Por isso, precisamos nos perguntar como anda o equilíbrio da afetividade nas famílias, sejam elas carentes ou não, e quais consequências têm sido colhidas na vida adulta.

É claro que, como mantenedores das necessidades emocionais e físicas dos filhos, as ações dos pais impactam fortemente na constituição da psique dos filhos. No entanto, a falta de tempo e o excesso de culpa têm permeado muitas relações e trazido muitos sofrimentos. Por isso, é momento de estar mais presente e não assumir a responsabilidade das decisões que são tomadas pelos filhos e que não pertencem aos pais.

Equilíbrio na dose de afeto
As mães, no papel maternal, geralmente propiciam vínculos afetivos e amor incondicional por seus filhos, e mesmo não concordando com atitudes deles, não os abandona, nem se rendem ao impossível. Entretanto, a escassez de tempo, a necessidade de vencer no mundo profissional e a opção de deixar outra pessoa em seu lugar, pode levá-las a um vazio. Ao contrário, uma mãe que não trabalha, não têm projetos, pode passar um tempo em excesso com as crianças, levando-as [as mães] a considerar a maternidade um peso. Depois, por serem responsáveis pela felicidade da mãe, muitos filhos adultos apresentam uma conta afetiva alta, que os impede de seguir a vida. O equilíbrio na dose de afeto maternal vai definir quem os filhos serão emocionalmente.

Outro ponto importante é o relacionamento do casal, pois, é a mãe quem abre espaço para a relação entre pai e filho. Muitas vezes, as esposas competem pelo amor do filho, atrapalhando a criação de vínculos que vão organizar a afetividade deles com os pais. É importante que, o casal invista na vida a dois e, também, no convívio com os filhos. São amores diferentes, que, bem equilibrados, se completam. Filhos são importantes, entretanto, não são a única prioridade do casal.

Os pais, no papel masculino, contribuem com o cumprimento da lei, fazem o corte entre mãe e filho, permitindo que esse se enxergue como indivíduo. Quando chega o tempo do filho buscar novos horizontes, faz o convite para sair do ninho em busca da liberdade, a qual traz responsabilidades e direitos. Escolhas fazem parte do processo de amadurecimento. Alguns pais, excedem nas leis e, gastam pouco tempo na convivência que ajudaria nesse aprendizado, ou, por insegurança, dificultam a saída de casa, criando filhos dependentes e frágeis.

Independente da maneira, é preciso demonstrar afeto
É lógico que, as crianças não restringem suas relações apenas aos pais. À medida que crescem, expandem o convívio social, mas, na primeira infância, as referências que marcam a existência das pessoas, provêm do ambiente familiar. A demonstração de afeto varia de pessoa para pessoa, sendo pais ou filhos. Alguns capricham no carinho, outros investem na educação ou têm um senso prático de solucionar problemas, não importa a forma, mas a criança precisa se sentir amada e valorizada para poder amar e valorizar o outro.

Ensine os seus filhos a valorizarem o que têm por meio da Paternidade da Escassez

Muitas pessoas tiveram uma infância sem acesso algum à maioria dos objetos que desejavam por conta da situação financeira dos pais. Dessa forma, é comum que quando eles cresçam e também se tornem pais, se esforcem para dar tudo aos filhos. No entanto, essa premissa pode gerar consequências negativas, sendo necessário aprender mais sobre a Paternidade da Escassez.
O Valor das Coisas
Estudos demonstram que quando se tem fácil acesso à objetos, como brinquedos, por exemplo, não existe uma valorização dos mesmos. Afinal, a criança saberá que sempre que cansar de um item, poderá substituir por outro do mesmo ou diferente. Consequentemente, não irá cuidar tão bem do que já tem.
Dessa forma, para muitos pais, o grande desafio é conseguir ensinar os seus filhos a valorizar suas coisas. Afinal, com privilégios ou não, tudo aquilo que se conquista deve ser fruto de trabalho honesto, e certamente não é fácil para os pais conseguirem oferecer o melhor para as crianças.

No entanto, quando não se ensina o valor de tudo o que se tem, é comum que pensar que é fácil conseguir qualquer coisa. Inclusive, quando sempre se entrega aquilo que o filho quer, então ele sempre acreditará que não existe esforço em conseguir o que deseja.

Conheça a Paternidade da Escassez
O modelo de Paternidade da Escassez visa justamente ensinar um pouco mais sobre a valorização ao retirar o acesso fácil a muitos objetos. Ou seja, deixar que o seu filho espere um pouco pelo brinquedo que queria, mesmo quando já se tem o dinheiro suficiente para comprá-lo.

Assim, certamente ele aprenderá a valorizar mais o objeto que tem em mãos, e não irá quebrá-lo rapidamente, por exemplo. Além disso, os pais podem trabalhar de modo a entregar brinquedos de acordo com um método de recompensas.

Aqui, a criança poderia fazer algumas tarefas domésticas simples, como arrumar o quarto todos os dias, ou jogar o lixo fora. Desse modo, é possível ensinar que sempre existe trabalho envolvido no processo de conseguir o que queremos, e certamente seu filho desenvolverá maior responsabilidade sobre o que pede.

Grupos e influenciadores oferecem limpeza solidária na casa de pessoas com depressão


Tudo começou há um ano, quando o diarista Guilherme Gomes, 20, ainda morava em Manaus (AM) e percebeu que algumas casas onde fazia faxinas tinham objetos acumulados e higiene precária.

"Ao invés de julgar, abandonar o serviço ou fazer só pelo dinheiro eu perguntava para o cliente se ele estava bem. Foi então que começaram a me relatar os problemas que envolviam perdas recentes, depressão e problemas financeiros. Algumas faxinas eu nem cobrava porque via o quanto estava difícil", conta.

O tempo passou e Gui, como é conhecido, começou divulgar as faxinas solidárias quando tinha o consentimento do cliente. Hoje, o diarista, que vive em São Paulo, conta com 35 atendimentos do tipo.

Por meio de doações dá continuidade ao serviço e, com ele, se tornou um influenciador e defensor deste tema que, além da limpeza, envolve a saúde mental.
Há uns quatro meses, quando comecei a divulgar, muita gente do país me procurou. E comecei a falar e mostrar que a depressão, por exemplo, não é frescura, é um assunto sério e que merece atenção, principalmente do poder público. Vejo que eu faço um trabalho que poderia ser realizado por governantes, mas não é o que acontece", diz.

A limpeza solidária, realizada pelo influenciador e diarista, também é feita por instituições e grupos. Eles miram aqueles que, devido a sua situação de saúde mental em decorrência de transtornos como o depressivo, não conseguem manter a moradia em condições adequadas de higiene e organização.

Segundo a Pesquisa Vigitel 2021, cerca de 11,3% dos brasileiros receberam um diagnóstico de depressão. A incidência maior é entre mulheres, com 14,7%. Além da depressão, outras patologias podem causar estes comportamentos, de acordo com Vanessa Flaborea Favaro, psiquiatra e diretora dos ambulatórios do IPq-USP (Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo).

"Qualquer outra patologia psiquiátrica que traga uma perda de capacidades pragmáticas pode fazer com que a pessoa não consiga ter esse autocuidado ou o cuidado com a casa. Demências, pacientes psicóticos afastados da realidade e um estado grave, uma outra patologia, em especial, o Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que muitas vezes leva a limpeza exagerada de uma parte do corpo ou da casa. Além dos acumuladores, que não conseguem se desfazer de objetos mesmo que sejam danosos para a higiene do ambiente", afirma a psiquiatra.

De acordo com ela, em casos extremos a internação pode ser necessária. A ajuda, em muitos casos, representa alívio para quem está em sofrimento mental.

O projeto Limpeza Voluntária, criado há oito meses, também atua em prol daqueles que vivem em más condições de higiene e organização por decorrência da sua saúde mental.

Idealizado pelas estudantes Julia Melhem e Mônica Garcia, que já tiveram depressão, o programa faz seus atendimentos no litoral de São Paulo a partir de doações.

"Temos uma equipe de seis pessoas e atendemos algumas vezes no mês. Ver que a gente pode ajudar a dar um novo recomeço para a vida de alguém é gratificante" diz Julia, que teve a ideia de criar o projeto depois de ver vídeos de influenciadores realizando a mesma ação.

Para a psicóloga Tainara Cardoso, é importante que pacientes com depressão ou outra patologia tenham uma rede de apoio, além da ajuda profissional. A profissional salienta que questões sociais e raciais também podem ter peso no processo depressivo, de isolamento e de qualquer outro transtorno mental.

"É importante pensar um caminho. Uma construção de um cuidado, mas é importante que esse paciente seja acompanhado profissional, tenha uma escuta. Para atendimento gratuito, por exemplo, existe o Caps [Centro de Atenção Psicossocial], que vai auxiliar nestes casos de alta complexidade e sofrimento psíquico. Tem também a TCC (terapia cognitivo comportamental), que é mais objetiva. Mas é fundamental que esses pacientes sejam respeitados, que tenham diálogo, escuta e entendam que podem ser ajudados", diz.

ONDE BUSCAR AJUDA?
Procure a UBS (Unidade Básica de Saúde) ou o Caps mais próximo da sua residência
Em caso de emergência, entre em contato com o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ligando para 192
Converse com um voluntário do CVV (Centro de Valorização da Vida) ligando para 188 (chamada gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou de celular de todo o território nacional) ou acesse www.cvv.org.br

ANSIEDADE: sintomas podem durar uma vida inteira; veja dicas para controlar


Aflição, angústia e sentimento de perturbação causados por incerteza e contexto de perigo são condições associadas à ansiedade - um desconforto que, a depender do grau e intensidade, pode nos beneficiar e também nos prejudicar.

"A ansiedade é uma função mental útil a todos nós. Mas existem algumas situações em que a ansiedade vai crescendo e começa a prejudicar o indivíduo. A ansiedade começa a trazer um prejuízo àquela situação", explica o médico psiquiatra Antonio Egídio Nardi, em vídeo do Canal da Psiquiatria, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). 

Ao falar sobre ansiedade, Antonio Egídio Nardi destaca como se trata de uma sensação comum do ser humano e, inclusive, define esse desconforto como "uma função mental útil a todos nós". Afinal, a ansiedade é fundamental para nos ajudar a evitar situações de riscos e resolver possíveis problemas.
Ou seja, é natural ter alguns sintomas físicos quando estamos muito preocupados, como perda de sono, aumento ou diminuição no apetite e palpitações, entre outros. Mas os sintomas vão embora quando a preocupação e a ansiedade acabam.

"Quando ficamos ansiosos e preocupados, tomamos medidas para evitar um problema ou qualquer situação que nos preocupa capaz de gerar alguma ameaça. Assim, quando uma pessoa fica preocupada diante de algo, ela toma medidas para evitar alguma situação que poderá prejudicá-la." 

O psiquiatra destaca que, enquanto preocupada, a pessoa pode dormir mal, ter vários sintomas físicos e psíquicos. O apetite também pode diminuir ou aumentar, podem aparecer problemas gastrointestinais, além de uma má sensação física e psíquica. Entretanto, quando o problema é resolvido, a ansiedade desaparece imediatamente. 

"Mas, quando o indivíduo fica tão ansioso com a situação, a ponto de não conseguir se controlar, passando muito mal com sintomas físicos e psíquicos, isso traz um prejuízo enorme. Ele não tem um bom desempenho. A ansiedade passa a ser patológica (doença). Além da intensidade dos sintomas, a ansiedade passa a ser crônica; pode durar muito tempo e, às vezes, uma vida inteira", alerta Antonio Egídio Nardi. 

A explicação do psiquiatra remete a um transtorno de ansiedade generalizado, conhecido pela sigla TAG no meio médico. "Também pode ocorrer o transtorno do pânico, caracterizado por crises de ansiedade que geram fobias, limitações à vida."

Ele acrescenta que isso é diferente da ansiedade adaptativa, aquela que é boa porque nos ajuda a evitar problemas. 

"Mas a ansiedade patológica nos prejudica. É importante procurar tratamento, que nos ajuda a vencer o mal que nos aflige", orienta o médico psiquiatra. 

domingo, 25 de setembro de 2022

‘Equilibrando os pratinhos’: como ser mulher, mãe, profissional


Apesar dos avanços conquistados em ocupar mais espaços, não há tempo suficiente para que a mulher desempenhe com excelência todos os papéis que lhe são atribuídos ou que ela escolhe desempenhar (profissional, mãe, companheira, amiga…). Como a conta não fecha dentro das 24 horas diárias, a experiência de ser mulher demanda “equilibrar os pratinhos”, sem deixar nada cair ou quebrar.

Há ainda poucas empresas no Brasil que tentam tornar esse percurso menos díspar em relação aos homens, oferecendo condições estruturais básicas para que a mulher consiga conciliar a carreira profissional à maternagem, sem impor a escolha de uma em detrimento da outra. Mais do que flexibilidade de horários ou possibilidade de home office, ou ainda benefícios que vão do plano de saúde ao kit fralda, é preciso equiparar as licenças maternidade e paternidade, para que ambos os pais possam estar presentes integralmente nos primeiros meses de vida do bebê.

Desde 2016, com a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância, empresas cadastradas no Programa Empresa Cidadã concedem 20 dias de licença aos pais e seis meses às mães.

“Ainda falta entender que crianças precisam ser criadas pelos pais e pelas mães”, provoca Cris Bartis, cocriadora do Mamilos Podcast e mãe de Tamires, 10 anos, e Amós, 2 anos. “É muito difícil se separar de um bebê pequeno enquanto ainda estamos entendendo quem é quem nessa nova configuração familiar. Ficar sem ele é quase a sensação de falta de ar”, define. Mas, mesmo assim, “é preciso criar forças e voltar”. 
“O que é um parto perto da volta ao trabalho depois da licença? É muito medo e insegurança de que você não vai conseguir produzir o suficiente”

Raphaella Martins Antonio, publicitária e mãe de Liz, 2 anos, concorda com a urgência da paridade de uma licença parental, como forma de provocar uma revisão cultural. “A sociedade hoje está toda estruturada na ideia de que a responsabilidade do maternar é apenas da mãe, desde a licença-maternidade, que é maior para elas, até detalhes como trocador de bebê apenas nos banheiros públicos femininos.”

“Nesse modelo de sociedade, nosso corpo é o capital de trabalho”, completa Cris. “Como o corpo da criança ainda não produz, é invisível aos olhos dessa lógica. Nós, como principais cuidadores, responsáveis por criar os futuros produtos do capital, não temos esse trabalho reconhecido, tampouco remunerado.”

Cris Bartis, comunicadora e mãe de Tamires e Amós: “Nesse modelo de sociedade, nosso corpo é o capital de trabalho. Nós, responsáveis por criar os futuros produtos do capital, não temos esse trabalho reconhecido, tampouco remunerado”

Números comprovam o impacto de as “tarefas” do cuidar seguirem intimamente associadas à figura feminina: 30% das mulheres já abriram mão de seus empregos após se tornarem mães, número superior quatro vezes ao de pais. Dessas, apenas 8% conseguiram voltar em menos de seis meses (contra um índice de 33% para os homens), apontou pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Catho, em 2018. Como alternativa muitas vezes de sustento e renda extra, elas dominam o chamado “empreendedorismo feminino”.

O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras – elas são mais de 24 milhões de brasileiras. O dado é de um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado com 49 nações.

Raphaella relata que já ouviu muitas vezes entrevistadores perguntarem se queria ser mãe ou se engravidar estava em seus planos, a que respondia com um “sim, o mais rápido possível”, diz. “Também questionava, de forma irônica, qual o impacto da pergunta na rotina e os critérios do perfil, além de já automaticamente descartá-la da lista, com a ciência de que uma empresa que não valoriza ou rejeita o que me é tão caro, não serve para mim.”

Para Vanessa Cabral, gerente executiva da área de Pessoas e Cultura e mãe de Laura, de 1 ano, “a pluralidade torna o ambiente mais rico, aberto a trocas e próspero para boas ideias”. Ao adotar práticas de bem-estar para as mulheres, ela acredita que “os benefícios impactam os colaboradores de forma geral, trazendo um olhar mais humano para as organizações”, declara. Vanessa foi promovida a uma posição executiva quando estava com quase cinco meses de gestação.

De quem falamos quando falamos de ‘equilibristas’?
Mas, quando falamos em equilibrar trabalho, cuidado com filhos, inserção e reconhecimento no mercado, equiparação salarial, divisão das tarefas domésticas, trata-se de um recorte de feminismo branco, alerta Cris Bartis. “Não estamos falando de todas as mulheres. A cada uma dessas brigas, vamos perdendo mais mulheres. Quando falamos de conquistas ou retrocessos, consideramos apenas aquelas que conseguiram avançar; tem gente que nem chegou a esse lugar e as questões estão em outro patamar, como saneamento e creche para deixarem os filhos enquanto cuidam dos nossos. Não existe direito adquirido em definitivo”, lembra.
Como equilibrar os sentimentos nessa jornada?
“O que será que uma mãe
faz,
além de ser mãe?
Ser mãe dói demais.
Todas as mães precisam
do direito fundamental
de serem mulheres
também.”
Poema Direito Fundamental, de Ana Suy, no livro “A corda que sai do útero”

Diante da tendência de um mercado mais preocupado em acolher as mulheres, dando-lhes suporte mínimo, e companheiros melhor esclarecidos em relação ao equilíbrio de comprometimento com as questões do lar e em apoiar emocionalmente suas parceiras, ainda existe o sentimento de culpa que mulheres tentando “equilibrar os pratinhos” costumam carregar consigo e o julgamento alheio a que estão sujeitas.

Maria Candida Baumer Azevedo, sócia-fundadora da People & Results e mãe de Duda, 5 anos, e Arthur, 8 meses, sugere que a desconstrução e a reconstrução devem começar desde a primeira infância, quando a personalidade da criança é formada. “Mais do que criar filhos para a noção de equidade, é preciso criá-los para serem autônomos, seguros de si, automotivados, emocionalmente equilibrados, independentes”, defende. “Essa criança vai ser um adulto que se posiciona, com contundência e assertividade, criando seu próprio espaço”. 

Cris também acredita que não devemos esperar que a sociedade mude o suficiente, mas nos conclama a fazer a nossa parte. “Devemos protagonizar a mudança, desconstruindo o sentimento e dando abertura para que outros possam nos ajudar em determinados papéis, mesmo que não saia exatamente do nosso jeito. A pergunta que nos cabe é: somos capazes de carregar o incômodo da imperfeição?”

“As pessoas me perguntam ‘como você dá conta?’ Mas quem disse que eu dou conta?”, questiona-as de volta. “Lido todos os dias com coisas por fazer, mas é justamente esse lugar da humanidade que devemos reivindicar, para validar nossas justificativas e entender que não dar conta não é tão ruim assim.”

Os impactos da maternidade na vida e na carreira das mulheres


A mulher ficou confinada por séculos, dedicando-se exclusivamente ao cuidado da casa e dos filhos. Foi depois da primeira guerra mundial que as mulheres passaram a ganhar aos poucos o espaço no mercado de trabalho, no Brasil a inserção da mulher no mercado de trabalho foi tardia e, quando homens foram para frente de batalhas e retornaram com sequelas, e muitos vieram a óbito.

As mulheres não tiveram seus direitos inicialmente assegurados e havia uma enorme exploração da mão de obra feminina, ganhando menos que os homens e com carga horária muito superior, sendo exposta a insalubridade. Foi a Constituição de 1934 que garantiu jornada diária de oito horas, equiparação salarial, descanso semanal, férias remuneradas, licença-maternidade remunerada, proibição de mulheres em trabalhos insalubres, assistência médica e sanitária às gestantes, e impediu que fossem demitidas no período gestacional.
De lá em diante, as leis trabalhistas sofreram diversas alterações, assegurando direitos da mulher no ambiente profissional. Assim, ao longo dos tempos as mulheres, vieram conquistando paulatinamente espaço na sociedade e sua presença no mercado se consolidaram. Atualmente as mulheres no Brasil já são a maioria da população e uma grande parte é responsável pelo sustento de sua família. O que torna essa realidade repleta de desafios, ao tentar conciliar vida pessoal, profissional, com o papel de mãe, em especial a maternidade.

Ainda há obstáculos
Mas a desigualdade de gênero ainda existe e cria vários obstáculos para as mulheres no mercado de trabalho, e, ao se ampliar este papel da mulher no mercado de trabalho, mudaram-se conceitos de ser mulher, e surgiu a questão de a mulher retardar, a maternidade. Com o surgimento da pílula, a gravidez passou a não ser mais uma obrigação para elas e, sim uma opção, e com o auxilio da medicina, esta passou a ser planejada e muitas vezes desejada. E hoje a escolha da mulher em ter filhos depende daquilo que ela está envolvida e valorizando naquele momento, de suas preocupações em evoluir a carreira, ou em deixar passar o período fértil.
Assim, a maternidade é um desafio para as mulheres, pois ainda exista a questão da dupla jornada e elas são, em maioria, as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas e cuidado com os filhos. O resultado é que o percentual de mulheres executivas sem filhos é maior do que o de homens (45% executivas, para 19,3% dos homens).

Percebe-se que para os homens o trabalho e família são complementares. Para a mulher, as duas áreas são demasiadamente importantes, entrando muitas vezes, em conflito e, por esse motivo, cada vez mais brasileiras adiam a maternidade, para ter filhos após os 40 (quarenta) anos de idade. O Ministério da Saúde mostrou que as mulheres, que optaram pela maternidade após esta idade (40), aumentou para 49,5% em 20 anos.
Observamos que muitas vezes as mulheres carregam um sentimento de culpa, por supostamente, estar falhando como mães, ou profissionais. São sentimentos ambíguos, entre a carreira e a maternidade, que obriga a maioria das mulheres a se tornar equilibrista para conciliar as duas coisas de forma muito inspiradora. Afinal, as mulheres atualmente querem a conquista do sucesso profissional, estabilidade financeira, para então decidir formar uma família.

O desafio da maternidade
A maternidade, por vezes, vem como uma escolha para a mulher, entre filhos e carreira, entre esperança e medo, o que a maioria das profissionais sentem quando decidem ser mães. As mulheres que querem ter filhos, ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades enquanto tentam conciliar carreira e família. E dados apontam que uma maioria das profissionais deixa o emprego após o nascimento do primeiro filho

Nesse sentido, algumas empresas estão preocupadas em reter seus talentos e desenvolvem políticas e programas que atendem a necessidades da mulher, proporcionado que ela concilie a vida profissional, pessoal e o papel de mãe, tais como, creche, espaço de amamentação, entre outros.

Entendemos que com uma divisão de tarefas de forma mais justa e parceria dentro do ambiente familiar, mais mulheres deixariam de ter dificuldade em conciliar trabalho e afazeres domésticos para se dedicar a conquistas e a cargos sonhados – e isso também é fundamental para a mudança social.

Mulheres na tecnologia: os desafios femininos no setor

Apesar do crescimento, as mulheres na tecnologia ainda são minoria. É uma área de atuação ainda predominantemente masculina e com pouco incentivo à qualificação feminina. 

As dificuldades já começam no momento de decisão pela carreira, pois elas não são encorajadas a seguir profissões em tecnologia. Além disso, a falta de representatividade e as poucas oportunidades em ambientes inclusivos também geram consequências negativas.

Mas, mesmo com todas as adversidades, neste artigo você poderá entender os avanços que estão acontecendo e como é possível promover maior diversidade na tecnologia para abrir espaço para mais mulheres atuarem na área.

Qual é o contexto das mulheres na tecnologia?
A quantidade de oportunidades na área de Tecnologia da Informação (TI) é muito grande e, portanto, contar com a participação de mais mulheres é fundamental. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), apontou que, até 2024, é estimada uma lacuna de 270 mil profissionais de TI, o que irá provocar uma perda de receita em torno de R$ 167 bilhões.

Segundo a pesquisa Women in Technology, da Michael Page, as principais razões por trás do baixo número de mulheres líderes de tecnologia são:

• 38% – falta de inscrições por parte das mulheres;

• 37% falta de oportunidades para as mulheres;

• 25% – escassez de talentos femininos com o conhecimento exigido;

• 17% – falta de experiência necessária para ocupar o cargo.

Mesmo com todas essas adversidades, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apontou que a participação das mulheres cresceu 60% nos últimos cinco, passando de 27,9 mil para 44,5 em 2019. No entanto, o avanço ainda é tímido e elas representam somente 20% dos profissionais de tecnologia do país.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a tendência é que, em 10 anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho deve crescer mais do que a dos homens em diversos segmentos, entre eles, ciência e tecnologia.

Um ponto fundamental é que as empresas precisam se lembrar de que equipes diversas geram soluções mais diversas e eficazes, o que tem o potencial de proporcionar muito mais rentabilidade para o negócio. Por isso, incentivar a atuação das mulheres na tecnologia é benéfico para todos os envolvidos.

Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres?
As barreiras existem e precisam ser superadas. Para a mulher, infelizmente ainda é muito mais difícil se firmar na área de tecnologia. Entre os principais desafios enfrentados, estão:

Falta de incentivo
O problema, como já mencionado anteriormente, começa na escolha da graduação: por mais que 60% dos formandos do ensino superior no Brasil sejam mulheres, somente 23,9% delas se formam em cursos de engenharia.

Quando pensamos em tecnologia, ainda há uma associação direta ao homem branco, nerd e milionário. As mulheres, portanto, não costumam se enxergar em uma posição dentro desse universo. Normalmente, são associadas às áreas de marketing e comunicação, enquanto o homem é associado às áreas de construção, o que afasta a entrada delas no ramo.
Autoexigência feminina
 

Visto que o setor de tecnologia dominado por homens, as mulheres que optam por seguir essa carreira acabam sendo muito mais exigentes consigo mesmas e cultivam a mentalidade de que precisam sempre se provar boas o suficiente, o que atrapalha a autoestima.

Os dados não mentem: elas tentam 20% menos vagas do que os homens porque entendem que precisam cumprir 100% dos requisitos. Os homens, por sua vez, costumam se candidatar cumprindo apenas 60% dos requisitos.

Diferenças de salários
De acordo com a empresa de recursos humanos, Revelo, a diferença de salários entre homens e mulheres na área de tecnologia era de 22,4% em 2017 e passou para 12,4% em 2019. Para se ter uma ideia dos números, a média das propostas de remuneração das mulheres em 2019 foi de R$ 5531,00, já a dos homens foi de R$ 6829,00.

Esse tipo de disparidade gera frustração e desmotivação, afinal, é muito difícil para as mulheres aceitarem que independentemente da dedicação e qualificação, já sairão ganhando menos.

Falta de representatividade
São poucas as mulheres que são referências em tecnologia, o que também contribui para que muitas meninas que se interessam pela área não se sintam encorajadas. O fato de o setor com muito mais homens e existirem várias dificuldades para as mulheres se firmarem faz com que boa parte desista de seguir carreira.

A representatividade é fundamental para que elas sintam que é possível chegar lá e mudar essa realidade, por isso, a luta das mulheres pela causa é muito importante.

Preconceitos
Por fim, assim como em todo o mercado de trabalho, na área de tecnologia as mulheres também precisam lidar constantemente com os preconceitos. Elas ainda são tidas como o “sexo frágil” e características como a sensibilidade são analisadas sob um viés negativo por muitas empresas.
Acesso à informação e qualificação
O acesso à informação de qualidade sobre tecnologia pode fazer a diferença, tanto para despertar o interesse das mulheres como para tirar dúvidas sobre o setor. O portal “Mulheres na Computação” foi um dos pioneiros sobre o assunto e traz muitos conteúdos interessantes,

A qualificação também é fundamental e iniciativas que visam oferecer oportunidades para as mulheres são muito importantes para acelerar a inclusão. Uma parceria entre a Catho e a Let’s Code, escola de programação para desenvolvedores, foca em contratar cada vez mais mulheres no segmento. 

Para isso, ofereceram 25 vagas para um curso gratuito voltado para as mulheres. Com duração de 8 meses, o foco é aprender a programar por meio de aulas ao vivo e online, além de ter acesso à capacitação voltada para as soft skills necessárias para atuar na área. Além disso, em 2020 a Catho criou o “Essa cadeira é minha”, um projeto com foco na inserção de mulheres em tecnologia por meio de mentorias, capacitação e empregabilidade.

O Google, por sua vez, tem um compromisso com a promoção de um ambiente de trabalho mais diverso e conta com iniciativas como o “Cresça com o Google”, um programa de capacitação profissional gratuito. No Brasil, desde 2017 disponibilizam treinamentos especialmente para mulheres. O programa conta com uma etapa, “Cresça com o Google para Mulheres na Tecnologia”, que aborda os desafios na área, como aplicar as habilidades na prática e oportunidades no mercado.

Além disso, para incentivar as jovens mulheres a seguir carreira na programação, o Google também promove o “Change the game”.

Criação de comitês dentro das empresas
Para mudar a realidade dentro das organizações, é importante a criação de comitês que visam promover um ambiente de trabalho mais inclusivo. É necessário que novos processos, baseados na diversidade, sejam construídos. Além disso, o dia a dia deve ser propício ao desenvolvimento e crescimento de todos, inclusive das mulheres em tecnologia.

Os processos seletivos para vagas no setor, por sua vez, precisam ser revisados com o foco em aumentar a divulgação voltada para mulheres. Da mesma forma, os planos de carreira para elas também devem ser estruturados com atenção para que as mesmas oportunidades sejam dadas a todos. E, por fim, as remunerações entre homens e mulheres de tecnologia também precisam ser igualitárias.

Por: Tatiana Pimenta

sábado, 24 de setembro de 2022

Mulher tem que votar em mulher? E se sim, de que mulher estamos falando?


Em primeiro lugar sim, sim e sim: a política institucional brasileira precisa de mais mulheres para ontem. Mais mulheres pretas, trans, lésbicas, indígenas, periféricas, aguerridas que lutem por igualdade de direitos, de salários, pela divisão justa de trabalho e cuidados, que sejam frente de resistência ao machismo na sociedade e dentro do Congresso, do Executivo e das casas legislativas. Mulheres com a caneta na mão. Tomando decisões. Isso é indiscutível, inclusive se pensarmos em proporções: apesar de sermos a maioria da população e 52% do eleitorado brasileiro, na Câmara dos Deputados, por exemplo, das 513 cadeiras, só 77 são ocupadas por deputadas, o que corresponde a 15% do total. No Senado, somente 12 mulheres foram eleitas para as 81 vagas, o que equivale a uma participação feminina de 14%. Apenas uma mulher foi eleita presidenta na história do Brasil, e pudemos assistir a maneira misógina como ela foi tratada durante seu governo e, principalmente, durante o golpe que sofreu.

O Brasil tem inclusive lei e emendas parlamentares que determinam cotas de ao menos 30% de dinheiro dos fundos partidários, candidaturas e tempo de propaganda para mulheres. O que não significa que essas mulheres serão de fato eleitas ou que essas mulheres sejam de fato apoiadas ou levadas a sério dentro de seus partidos. Também é importante celebrar as mulheres que durante esses últimos difíceis quatro anos de governo fizeram resistência ao ultraconservadorismo e a ameaça a direitos, mesmo enfrentando todo tipo de violência política de gênero e ameaças — muitas delas inclusive vindas de outras mulheres. Mas, e aqui coloco um grande mas: será que vale escolher uma candidata apenas por ser mulher? Sem ler seu projeto de governo? Sem conhecer sua história? Nos casos em que já tiveram cargos públicos, sem pesquisar sua trajetória política? Eu acredito que não. Não basta apenas eleger mulheres. E por isso não concordo com o bordão da candidata do MDB à Presidência, Simone Tebet, que diz "mulher vota em mulher". A própria senadora Simone Tebet, por exemplo, foi listada em uma publicação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) entre os 50 parlamentares que mais atuaram contra os direitos indígenas no Parlamento. E a também candidata à Presidência e senadora Soraya Thronicke (União Brasil-MS), que ganhou destaque no debate Band/UOL ao criticar o machismo do presidente Jair Bolsonaro, há quatro anos acumulou 373.712 votos com o mote "a senadora do Bolsonaro" . Como não pensar na ministra Damares Alves e suas investidas contra direitos das mulheres e LGBT+? Ou em deputadas mulheres que propuseram projetos para acabar com as cotas para as mulheres? 

A socióloga Sabrina Fernandes do canal Tese Onze tem um vídeo muito interessante de 2020 que discute as diferenças entre representatividade simbólica —que seria a presença, a aparência, o efeito que maior participação feminina na política causa— e a representatividade substantiva ou concreta —que é a representatividade de conteúdo, a presença de uma deputada federal que não é apenas mulher mas que luta pela maioria das mulheres: trabalhadoras, que lutam por vagas em creches e na saúde, que lutam por um acolhimento real em casos de violência, por parto humanizado, que querem o fim da discriminação salarial.
"Todas ali [No Parlamento e nas casas legislativas] têm algum tipo de representatividade simbólica, sejam como mulheres de esquerda ou de direita. Mas nem todas elas praticam representatividade concreta. É algo que precisa de prática, vai ter a ver com coerência, com o que você defende. No fundo, não basta apenas ser mulher", diz ela. Eu concordo com Sabrina. Nós precisamos sim (e muito) de representatividade, mas representatividade concreta. E, como ela também coloca no vídeo, para nem todas as mulheres que dizem "vamos juntas" minha resposta vai ser sim. Para algumas vou dizer "desculpa, mas não vou não"

Acredito que mulher tem que votar em representatividade concreta. Votar em quem não sequestra nossas pautas para instrumentalização política ou transforma lutas importantes e essenciais do feminismo em pastel de vento.

Fonte: Andrea Dip / UOL 

Crescem casos de violência contra a mulher por colecionadores de armas


Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que estão aumentando os casos de violência contra a mulher cometidos por colecionadores de armas, atiradores esportivos e caçadores (CACs), grupo que teve o acesso a armas facilitado durante o governo Bolsonaro.

Segundo o estudo, os crimes contra mulheres cometidos por homens com registro de CAC nos últimos quatro anos foram, principalmente, de agressão e violência doméstica, ameaça e feminicídio. Foi encontrado também um caso de violência sexual. O levantamento foi feito nos Tribunais de Justiça de três estados: São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Em 2018 foi registrado apenas um caso e até setembro deste ano já havia quatro, totalizando 13 no período. Vale lembrar que número de pessoas com registro de CAC cresceu dez vezes nesse intervalo. Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, alerta para o fato de que os casos são ainda mais numerosos do que o levantamento apontou.

O levantamento do Instituto foi feito com base no uso de palavras-chave para a pesquisa jurisprudencial nos sites dos Tribunais de Justiça, dentre elas "atirador esportivo", "colecionador de armas", "caçador" e demais termos relacionados. A partir da leitura dos acórdãos, foram levantadas informações específicas quanto ao tipo de crime, o réu e o ano do crime.

A Universa, Langeani explica que a decisão de fazer esse estudo veio após notar um crescimento no número de casos desse tipo noticiados pela imprensa.

"Nossa percepção inicial se confirmou, mesmo sabendo que certamente o levantamento está subestimado, porque dependíamos que esses casos estivessem na segunda instância e, além disso, que a decisão judicial tivesse uma menção explícita aos termos buscados", descreve.

A pesquisa foi feita apenas com casos abertos para consulta pública nos sites dos tribunais, o que só acontece com casos que já estão em segunda instância.

Segundo ele, os dados derrubam o discurso de grupos armamentistas de que as armas de fogo serviriam para a proteção da família.

"Houve uma explosão no crescimento dessa categoria, que é composta majoritariamente por homens. E há também um discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) dizendo que essa ampliação no acesso às armas é uma política boa para as mulheres. Nosso levantamento derruba totalmente esse mito. Apesar de muitos homens comprarem armas com o discurso de que é 'para a defesa da família', na prática esse instrumento tem sido usado muito mais para violentar a mulheres do que para proteger", ele avalia.

Segundo Langeani, com a flexibilização do registro CACs, o que mais cresceu foi a posse de armas em casa feita por homens. "E é justamente a residência o lugar tradicional da violência contra a mulher", alerta.


A importância da Lei de Cotas na democratização do ensino superior do Brasil


Com o incentivo dos pais, Júlia Souza Reis sempre sonhou em estudar em uma universidade pública. Aluna desde o ensino fundamental l da rede estadual de São Paulo, a jovem de Santo André, na região metropolitana da capital paulista, estampava nos boletins notas excelentes. “Entrar em uma universidade pública, para mim, era uma oportunidade de melhorar as condições de vida da minha família”, conta ela, hoje com 25 anos. O problema é que, em uma sociedade meritocrática, a justiça nem sempre está do lado de quem mais precisa. Júlia foi percebendo isso no segundo ano do ensino médio, quando prestou o Enem como treineira e se decepcionou com a pontuação obtida, muito distante das notas de corte dos cursos para os quais prestaria no ano seguinte.
A explicação para esse resultado estava na defasagem da educação que havia recebido até então. O que o histórico escolar repleto de boas notas não mostrava é que, para ela e tantos outros alunos da rede pública, muitas vezes faltam materiais e professores nas escolas. Com docentes sobrecarregados e dando aulas a turmas lotadas, a discrepância entre o ensino privado e público é enorme. Tamanha desigualdade foi discutida por décadas até uma medida concreta ser adotada a nível nacional.

Em 29 de agosto de 2012, foi aprovada uma norma federal para promover mais equidade no ingresso ao ensino superior público. Conhecida como Lei de Cotas, a lei nº 12.711 previa que 50% das vagas em instituições federais de ensino técnico e superior vinculadas ao Ministério da Educação fossem reservadas a estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas integralmente. Além disso, metade delas seria destinada a alunos cuja renda familiar fosse igual ou inferior a um salário mínimo e meio.
Quatro anos depois, em 28 de dezembro de 2016, foi aprovada a lei nº 13.409, que incluiu na Lei de Cotas mais grupos minoritários. A norma passou a dispor que aquelas vagas destinadas a alunos vindos do ensino médio público também seriam repartidas entre candidatos autodeclarados pretos, pardos e indígenas, além de pessoas com deficiência. A ideia é que a composição das turmas espelhe a população do estado ao qual a instituição de ensino pertence.


Após estudar quase dois anos em um cursinho popular gratuito, Júlia conseguiu realizar seu sonho e de sua família. Em 2017, ingressou no curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Bernardo do Campo (SP), graças à reserva de vagas destinadas a estudantes que concluíram o ensino médio na rede pública. Parda (mas que na época não se declarou como tal por entender que seu tom de pele era muito claro) e filha de trabalhadores que não tiveram oportunidade de fazer uma faculdade, Júlia faz parte de uma nova leva de estudantes que têm mudado o perfil do universitário brasileiro.
Trajetória de privilégios

Para entender por que a educação superior do Brasil é historicamente branca e rica, vale a pena voltar alguns séculos e analisar a formação desse sistema de ensino no país, que é muito jovem comparado ao de outras nações. Grandes centros de formação superior já existiam na Ásia, África e Europa desde a antiguidade, mas a concepção moderna de uma universidade nasceu em 1088, com a criação da Universidade de Bolonha, na Itália. Desde então, a Europa inaugurou algumas das mais renomadas universidades do mundo, como as de Oxford (1096), Salamanca (1134) e Cambridge (1209).

Quando os europeus vieram para as Américas, construir universidades não era bem uma prioridade, mas mesmo assim algumas foram inauguradas a partir do século 16. A primeira foi a Universidade São Tomás de Aquino, em 1538, na atual República Dominicana. Hoje, a entidade é conhecida como Universidade Autônoma de Santo Domingo. Em menos de 20 anos, os espanhóis também fundaram a primeira universidade da América do Sul: a Universidade de San Marcos, no Peru, em 1551. Já no século 17, os ingleses passaram a construir suas academias na América do Norte, sendo a primeira delas a Universidade Harvard, de 1636.

Os portugueses só foram se preocupar em investir na formação superior de sua colônia por aqui no século 19. Em 18 de fevereiro de 1808, menos de um mês após a chegada de D. João VI ao Brasil, foi fundada a Escola de Cirurgia da Bahia, a primeira instituição de ensino superior do país. Depois dela, várias outras surgiram, mas nenhuma concentrava cursos de diferentes áreas para serem consideradas universidades. A palavra “universidade” tem origem no termo em latim universitas, que significa “universalidade”. Para que uma instituição acadêmica receba esse nome, portanto, precisa abranger um universo de diferentes cursos, sobre temas variados.

Foi só no século 20, mais precisamente em 1909, que o Brasil inaugurou sua primeira universidade — embora ela não tenha recebido esse título na época. A Escola Livre de Manaus oferecia formação militar e cursos de agronomia, ciências jurídicas, farmacêuticas, sociais e naturais, engenharia civil, entre outros. Na década de 1920, porém, a instituição teve alguns cursos fechados por falta de verba. Levou 42 anos até que voltasse a funcionar plenamente, já sob o nome de Universidade Federal do Amazonas (UFAM).

Entre os centros de ensino superior pioneiros no país também estão a Universidade Federal do Paraná (UFPR), de 1912, a primeira a ser concebida como uma universidade de fato; e a Universidade de São Paulo (USP), que em 1934 tornou-se a primeira universidade brasileira baseada nos pilares de ensino, pesquisa e extensão.

Ao longo desses dois séculos de existência, o ensino superior do Brasil foi formado por um corpo discente majoritariamente branco e rico, que deixou de ter que cruzar o Atlântico em busca de formação na Europa e passou a ocupar as salas de aula de universidades públicas por aqui mesmo.

Conhecida como Lei do Boi, a lei nº 5.465 foi aprovada em 3 de julho de 1968. A princípio, ela estabelecia que 50% das vagas de cursos de agronomia e veterinária mantidos pela União fossem destinados a “candidatos agricultores ou filhos destes, proprietários ou não de terras, que residam com suas famílias na zona rural” e 30% para aqueles com o mesmo perfil, mas que morassem em cidades ou vilas sem acesso ao ensino médio. Acontece que, após anos de aplicação, constatou-se que os principais beneficiados eram filhos de grandes fazendeiros, que tinham condições de frequentar o ensino superior sem cotas. A Lei do Boi esteve em vigor até 1985.

Foi só com o fim da ditadura militar e o início da redemocratização que a luta pelo acesso ao ensino superior a quem precisa se fortaleceu. “Em 20 de novembro de 1995, tivemos a Primeira Marcha Zumbi contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida em razão dos 300 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares, um dos maiores líderes da resistência negra brasileira”, lembra Joaze Bernardino-Costa, professor associado do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB). Reunindo cerca de 30 mil pessoas na capital do país, a manifestação chamava atenção para a falta de políticas públicas voltadas à população negra.

O acesso ao ensino superior era uma das principais demandas. “A partir desse evento, o governo FHC [de Fernando Henrique Cardoso, presidente do Brasil de 1995 a 2002] criou um grupo de trabalho interministerial que começou a estudar propostas de ações afirmativas e organizou um seminário sobre multiculturalismo e antirracismo para elaborar medidas de enfrentamento ao racismo no Brasil.” O assunto havia entrado na pauta do governo federal graças ao movimento negro, mas foram necessários muitos mais anos de luta para que estudantes pretos conseguissem ter maior acesso ao ensino superior público do país.

Um passo à frente

Antes mesmo da aprovação das leis federais, alguns estados e universidades já haviam se adiantado na discussão sobre cotas e criado suas próprias regras. A primeira instituição pública de ensino superior a implementar cotas sociais e raciais no ingresso de seus estudantes foi a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Com a aprovação da lei estadual nº 3.524 em 2000, foram reservadas 50% das vagas para pessoas que cursaram integralmente o ensino médio em escolas da rede pública municipal e estadual.
Já em 2001, a lei estadual nº 3.708 marcou a criação de cotas destinadas à população negra para as vagas de graduação da UERJ e da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Nos anos seguintes, as cotas foram sendo remanejadas e ampliadas, incluindo a criação de reservas para candidatos indígenas e pessoas com deficiência.
“Qualquer pessoa que esteve na universidade [UERJ] antes das cotas vê uma mudança racial e econômica drástica no corpo discente”

Luiz Augusto Campos, professor do IESP-UERJ
Se em 2003 a UERJ recebeu 3.056 cotistas em seu primeiro vestibular com reservas de vagas, em 2020 esse número chegou a 7.553 alunos. “Qualquer pessoa que esteve na universidade antes das cotas vê uma mudança racial e econômica drástica no corpo discente”, afirma o cientista político Luiz Augusto Campos, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da UERJ e coordenador do Grupo de Estudos Disciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) da universidade.

Outra instituição que esteve à frente das discussões sobre cotas foi a UnB, a primeira universidade federal a criar vagas para enfrentar a exclusão étnico-racial existente no ensino superior e também a primeira a fazê-lo por conta própria, sem uma demanda exigida por lei. Quem estabeleceu o primeiro plano de cotas da UnB foi o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), que aprovou em 2003 a reserva de 20% das vagas da graduação para estudantes negros e criou 20 vagas adicionais para indígenas, que são acessadas pelo Vestibular Indígena. Realizado em parceria com a Fundação Nacional do Índio (Funai), esse processo seletivo é adaptado ao tipo de educação ministrada em tribos Brasil afora.

Alunas de escola pública são premiadas por absorvente sustentável de R$ 0,02

Foi numa conversa dentro de casa que a estudante Camily Pereira dos Santos, 18, deparou-se com a pobreza menstrual pela primeira vez. Ainda durante a pandemia, ela descobriu que a mãe não teve acesso a absorventes na juventude e precisava improvisar o bloqueio do fluxo com panos velhos e tecidos.

"Nunca imaginei que essa questão estivesse tão próxima de mim", diz Camily.

Foi então que a aluna do curso técnico em informática do Instituto Federal do Rio Grande do Sul, integrado ao ensino médio, em Osório (RS), teve certeza de qual seria seu objeto de estudos: um absorvente sustentável feito a partir de subprodutos industriais que fosse ecologicamente correto, barato e acessível.
Funcionária pública desde 2010, a professora Flávia Twardowski logo abraçou a iniciativa e passou a orientá-la. Laura Nedel Drebes, 19, estudante do curso técnico em administração da mesma instituição –e que já tinha conhecimento prévio sobre plástico biodegradável, fundamental para uma das camadas do absorvente–, logo se uniu a elas.

Foram quase nove meses trabalhando por cinco horas diárias durante a pandemia para chegar ao protótipo laureado em agosto na Suécia com o Prêmio Jovem da Água de Estocolmo, onde as cientistas foram contempladas com US$ 3.000 (cerca de R$ 15.500).

"Quando foram anunciar o prêmio e falaram sobre a questão da dignidade humana, foi o momento em que a Laura e eu nos olhamos e demos as mãos. Eu sussurrei: 'não acredito, é a gente'. Nos levantamos e nos abraçamos", afirma Camily.

Laura explica que cada quilograma de algodão usado para produzir o produto convencional precisa de 10 mil litros de água. O processo do absorvente sustentável, que ganhou o nome de SustainPads, usa 99% menos água, segundo a aluna.

O algodão, explica Camily, é substituído por fibras do pseudocaule da bananeira e do açaí de Juçara, planta típica da Mata Atlântica. "Usamos essa matéria-prima no lugar do plástico feito de recursos não renováveis."

O produto criado por elas tem um custo médio de R$ 0,02 a unidade (refil mais invólucro de tecido que o envolve) e segue padrões nacionais e internacionais de segurança para absorventes, segundo o grupo.

A equipe, ainda durante a estadia na Suécia, foi sondada por uma empresa europeia que tem trabalhos sociais na África. Organizações brasileiras e o sistema carcerário também demonstraram interesse no produto e, com isso, o grupo decidiu abrir processo de patente do protótipo.

"O próprio Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância] nos mandou mensagem para uma parceria", afirma a professora Flávia.

Até a conquista no exterior, as alunas passaram por uma série de desafios: muitas tentativas e erros em seu experimento, além da falta de um laboratório e de equipamentos básicos para trabalhar, como prensa e o aparelho para fazer os testes mecânicos dos filmes.

Para substituir o algodão que reveste a parte interna do absorvente, elas tentaram usar sabugo de milho e casca de arroz.

"Mas esses não foram materiais tão bons e tão absorvente quanto o algodão. Ficamos, então, com as fibras do pseudocaule da bananeira, que se mostraram ser capaz de absorver 17% mais que o absorvente convencional", afirma a professora.

Para extrair essa fibra que substitui o algodão, elas precisaram improvisar, na falta do equipamento adequado. "Então veio a ideia de literalmente atropelar o insumo com a roda do meu carro como se fosse uma prensa", afirma a orientadora.
Apesar da importância social do absorvente sustentável, as três brasileiras não tinham expectativa de ganhar o prêmio na Suécia. Elas já haviam passado pela etapa nacional, no Rio de Janeiro, e foram as escolhidas para representar o Brasil em Estocolmo, onde concorreram com outros 35 países.

"Foi muito inusitado [vencer]. Quando fizemos a inscrição, não imaginávamos que nosso projeto estava tão relacionado com a água. Havia trabalhos como tratamento de fluentes, por exemplo, que pareciam mais prováveis de vencer", afirma Laura.

A aluna lembra, ainda, um encontro especial que teve em Estocolmo. "Conhecemos a princesa Vitória da Suécia [primeira na linha de sucessão ao trono sueco], patrona do prêmio."

Para a professora Flávia, o prêmio expõe a relevância do ensino público. "Mostramos que o Brasil também produz bom conhecimento e que as meninas podem fazer ciência, inclusive na educação básica e em uma escola pública."

As estudantes esperam ter seu produto no mercado em, no máximo, cinco anos. "Que o SustainPads chegue a um custo bom e acessível às consumidoras no mundo inteiro para reduzir a pobreza menstrual", afirma Camily. 

No Brasil, mais de 4 milhões de mulheres não têm acesso a itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas, de acordo com dados da Unicef. Isso inclui falta de acesso a absorventes e instalações básicas nas instituições de ensino, como banheiros e sabonetes.

Em março, o governo estadual de São Paulo afirma ter repassado R$ 35 milhões para o Programa Dignidade Íntima, que distribui absorventes nas escolas da rede como forma de combate à pobreza menstrual, com destaque para alunas em situação de vulnerabilidade.

Na mesma época, após polêmica do veto do presidente Jair Bolsonaro, foi promulgada a Lei 14.214/2021, que cria o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. A norma determina que estudantes dos ensinos fundamental e médio, mulheres em situação de vulnerabilidade e presidiárias recebam absorventes para sua higiene pessoal gratuitamente.

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O que ainda falta para as mulheres conquistarem mais espaço no mercado?


Uma conta não fecha no mercado de trabalho. Embora as mulheres brasileiras sejam a maioria com ensino superior em todas as faixas de idade, exceto entre quem tem acima de 65 anos, apenas 37% dos cargos gerenciais são ocupados por elas. Os dados são de 2019 e foram colhidos pelo Instituto Brasileiro de Engenharia e Estatística (IBGE) e apontam ainda que as mulheres receberam 77% do salário dos homens naquele ano. Outra pesquisa, dessa vez da consultoria Bain & Company, mostra que apenas 3% das 250 maiores empresas do Brasil tinham uma líder na cadeira da presidência.

Se a questão não é a de preparo intelectual, por que as mulheres ainda sofrem para conquistar equidade e avançar para as posições mais altas no mercado de trabalho? “Não é por falta de capacitação ou de ambição. Nosso estudo mostrou que as mulheres têm essa aspiração em um nível muito semelhante ao dos homens. O que impede é uma questão do ambiente profissional que mina as oportunidades”, diz Luciana Batista, sócia da Bain & Company. “Para mudar isso é preciso olhar para o problema como um todo. O berço para os CEOs são os vice-presidentes, cujos berços são os diretores. O RH pode avaliar que não tem um número suficiente de candidatas, mas é importante olhar toda a cadeia.”

Quatro vezes mais mulheres
Na empresa de tecnologia RD Station, a área de gestão de pessoas está trabalhando para aumentar o número de mulheres num setor majoritariamente masculino, o de TI. Para se ter uma ideia, 80% dos profissionais da área são homens, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) do IBGE. Na RD, o percentual passou de 5% para 25% em dois anos. Isso foi possível porque a companhia começou a trabalhar intencionalmente para contratar e dar oportunidade para mais mulheres. “Elas não não conseguiam se apoiar, se desenvolver e aprender umas com as outras porque estavam em um número muito reduzido em comparação aos homens”, diz Alinne Faccaro, Business Partner de Tecnologia da RD.

A primeira ação da empresa foi conscientizar lideranças sobre a necessidade de contratação de mais mulheres. “Depois ajustamos os anúncios de vagas e a a comunicação com a comunidade de tecnologia, de modo a entender onde as mulheres estavam”, diz Alinne. Agora, a companhia busca ativamente mulheres e criou uma rede de apoio para todas que trabalham no setor. “Criamos ações de engajamento e de educação, para discutir temas como machismo estrutural e bom convívio no ambiente de trabalho. Além disso, treinamos a liderança para entender a importância da diversidade no ambiente de trabalho”, explica.

A empresa está com 44% das mulheres em cargos de liderança e metade dos participantes do programa de novas lideranças é feminina. “Abrir portas para a diversidade e facilitar esse caminho por parte da empresa e alta liderança têm ajudado muitas mulheres a se sentirem empoderadas a seguirem nesta direção.”

O peso da pandemia
A crise da covid-19 tem sido especialmente difícil para as mulheres. No Brasil, metade das profissionais está fora do mercado de trabalho por causa da pandemia, segundo a Pnad Contínua do último trimestre de 2020. “Entre os setores mais impactados economicamente, estão o de serviços, o informal e o de cuidados domésticos. Estes três têm algo em comum: são feitos, em sua maioria, por mulheres . Isso confirma um levantamento da ONU que mostra que durante a pandemia, os empregos das mulheres estão 19% mais em risco do que o dos homens”, diz Luciana Batista, da Bain & Company.

E entre aquelas que conseguiram manter o emprego, vem o peso de lidar com demandas e pressões que surgem tanto do lado profissional, quanto do pessoal. Um levantamento do site de empregos o Infojobs, por exemplo, mostra que 86% das mulheres têm dupla jornada de trabalho com a realização de atividades domésticas. Entra na conta, também, o cuidado com filhos ou outros familiares. A carga está tão pesada que um estudo da Mckinsey revelou que muitas mulheres estão considerando seriamente tirar licença ou deixar o mercado.

“Uma das maneiras de aliviar isso é contar com políticas e iniciativas mais flexíveis no ambiente de trabalho, considerando políticas da empresa e não somente para mulheres. É preciso também incluir homens nisso porque impacta diretamente a vida das mulheres com quem eles vivem e dividem as responsabilidades”, diz Luciana.

Você não é velha demais! Mulheres rebatem a velhofobia e realizam sonhos


Não importa se uma mulher tem 20, 40, 60 ou 80 anos, ela já passou pelo constrangimento de ouvir que "não tem mais idade para isso". O comentário pode vir de familiares e amigos preocupados com o bem-estar e com o preconceito que ela pode sofrer, mas, muitas vezes, vem carregado de ironia e julgamento, inclusive de pessoas desconhecidas.
Enquanto algumas não se importam com o preconceito de idade e se permitem, outras se sentem tolhidas e deixam de realizar sonhos ou se vestir como se sentem mais confortáveis e bonitas. Conversamos com quatro mulheres que já ouviram que estavam velhas demais para fazer o que queriam, mas que venceram as barreiras do etarismo e são felizes com a idade — e a liberdade — que têm.
Você não é velha demais para usar biquíni
"Se eu quiser, vou usar biquíni até os 90 anos ou mais", garante a psicóloga aposentada Alana Dias Mendes, 63 anos. Sem dar muita atenção às críticas e aos comentários não solicitados disfarçados de conselhos, ela acredita que peças de roupa e estilos de cabelo ou maquiagem não têm idade, e cada mulher deve seguir apenas um padrão: usar o que a faz se sentir bem.

Fã de praia, mais de uma vez ela ouviu que deveria usar maiôs, supostamente mais adequados à sua idade. Alana nunca foi fã da peça, que a atrapalha a tomar sol como gosta, e não vê por que se adequar a uma regra que não faz sentido para ela e que não afeta a vida de mais ninguém.
Dividindo peças com a irmã caçula, 12 anos mais nova, Alana sempre gostou de tênis estilosos, calça jeans e camiseta. "Isso, por acaso, é uma roupa de mulher de 60 anos? Claro! É roupa para mulheres de todas as idades, seja 15, 30 ou 90", completa, rindo.

Entre os acessórios, abusa das bolsas transpassadas e mochilas, práticas e modernas. E não foi apenas uma ou duas vezes que ouviu que não era mais garota para sair de mochilinha. Alana afirma que encara esse tipo de comentário com indiferença por ter uma autoestima elevada, mas reconhece a crueldade no julgamento que as mulheres sofrem cada vez que completam mais um ano de vida.

Mesmo sabendo que esse tipo de sentimento não vem fácil para todo mundo, ela sugere que as mulheres se olhem menos com os olhos dos outros e se enxerguem através da própria perspectiva. "Se você viu no espelho e gostou, pronto. 
Não espere a aprovação de mais ninguém. O que importa é você gostar e se sentir bem. Você não está fazendo mal a ninguém, e muitos que criticam gostariam de ter a mesma coragem", completa.
Você não é velha demais para ter cabelo rosa
A primeira coisa que notamos quando Sarah Rocha, 40 anos, entra em uma sala é o cabelo rosa vibrante. O visual faz parte de uma resolução de aniversário da bancária. "Aos 40, decidi me presentear com coisas que desejei por muitos anos, mas não podia fazer por certas limitações."

O principal obstáculo que Sarah encontrava era o ambiente de trabalho. No espaço corporativo, tinha receio que um cabelo considerado radical ou alternativo demais prejudicasse sua ascensão profissional. Ela percebia que colegas com visuais menos convencionais sofriam uma certa discriminação, mesmo que velada, e apesar de não concordar com essa visão, não queria que a aparência suplantasse sua competência.

Ao atingir estabilidade profissional, Sarah, por um breve instante, chegou a pensar que a idade poderia limitá-la, mas logo virou o jogo. "Estou com 40 anos e me veio o questionamento de quanto tempo eu iria continuar esperando para poder viver a minha autenticidade, por quantos anos deixaria de lado o sonho de experimentar?"