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Bocão 64

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

A LEITURA FAZ PARTE DA BRINCADEIRA

A leitura é um ato de representação e simbolização do mundo. A leitura nos proporciona construir um sentido próprio, nos ver, pensar e repensar o mundo. Lemos utilizando linguagem verbal através de palavras como também utilizamos linguagem não verbal, através de imagens, fotografias, obras de arte, música, entre outros. E é através da leitura que vamos nos relacionando com o mundo. Nos tornando seres sociais que dialogam, interagem, interrogam e questionam. Conforme afirma Paulo Freire:
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p.9)

A experiência da leitura nos coloca no lugar do outro, (nos forma) contribui para nos formar cidadãos mais empáticos, pois nos confronta com a experiência do outro. Ler nos move e nos ensina, também nos atravessa e nos faz compreender o mundo. 
É por meio da leitura que extraímos informações as transformando em conhecimento. O conhecimento nos permite fazer relações entre situações nos tornando cidadãos críticos, autônomos. 
A leitura é parte do processo de comunicação cotidiana, que envolve interações e trocas sociais, fomentada em situações diversas expressas pela memória, cultura, tradições e contextos sociais. 
É imprescindível lembrar que o leitor ressignifica o que lê, ou seja o mesmo texto lido pode trazer novos significados, enriquecendo a experiência leitora. 
A leitura é um ato dialógico, de apropriação, plural, libertária, emancipatória, não deve ser imposta; é provocação e está sempre em construção.

Precisamos conectar pessoas e textos, levando em consideração a participação efetiva e a história de vida do leitor. A mediação efetua essa ponte entre o mediador e o leitor, com o texto, a história e o ouvinte. 
Jouve (2002) salienta que o “charme da leitura” advém das emoções. Leitores amam, admiram ou mesmo odeiam personagens das obras que leem, criando relações afetivas e pessoais (componente importante da leitura literária).
O desafio de mediar a leitura está na conectividade que o mediador faz entre a importância das formas de linguagens e seus leitores. O mediador é um facilitador da criação das relações afetivas. Ele traz simbologia ao texto onde o leitor confronta suas experiências pessoas, sua cultura, seus valores com o experimento da leitura. O mediador direciona os argumentos incentivando que o leitor argumente, discorde, concorde, questione e reflita. O mediador traz novas descobertas e novos contextos para a pratica leitora, de forma cognitiva. O mediador em sua prática auxilia a formar cidadãos críticos.
Ezequiel Theodoro da Silva ressalta que um leitor crítico adentra um texto desejando compreender as circunstâncias, as razões e os desafios sociais permitidos ou não por este texto (SILVA, 2002).
Além da ambiência, é necessário múltiplas vozes e narrativas. O papel da palavra, da voz e da leitura é fundamental para a criação de vínculos de afeto e de acolhimento. 

Por que as crianças precisam brincar?


O que é brincar?

Brincar é essencial na vida do ser humano. É o caminho por onde as crianças desfrutam da infância e seu direito ao brincar deve ser sempre garantido e realizado. Brincar é um termo genérico que agrupa uma série de atividades e comportamentos que satisfazem a criatividade e são a maneira da criança se expressar e se organizar.

Para Vygotsky (1987) o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos.


Para a organização Play England brincar é “o que as crianças fazem quando seguem suas próprias idéias e interesses, do jeito deles e pelas razões deles”. Também descrevem o brincar como “o que as crianças fazem quando não é dito a elas o que elas devem fazer”.

Brincar é um processo psicológico, que possibilita o desenvolvimento e aprendizagem. Através da abstração da brincadeira a criança processa o que já foi aprendido e aquilo que é novo, juntando experiências, memórias e a imaginação. É brincando que a criança desenvolve novos significados e transforma conceitos já obtidos, o que é essencial para o desenvolvimento infantil. 

O ato de brincar não está relacionado a ter brinquedos ou ter que ganhar novos brinquedos todo o tempo. É possível se divertir, e muito, criando os próprios brinquedos, imaginando, utilizando o espaço externo, explorando a natureza, a cidade e aprendendo, desta forma a não ser refém de suportes externos, neste caso um brinquedo novo, para a satisfação pessoal.

O que a criança ganha ao brincar?

Ao brincar, a criança se descobre e descobre o mundo ao seu redor. Através das experiências que vivencia ao explorar objetos, o ambiente, os sons, os cheiros, as cores, os sabores, o próprio corpo, a criança vai criando um elaborado emaranhado de descobertas, onde pode analisar, testar hipóteses, avaliar, etc. Ao brincar, a criança vai descortinando novas possibilidades e novas formas de fazer, ser, experimentar. 

É através da brincadeira também que a criança compreende as dinâmicas sociais. Nas brincadeiras de faz de conta, onde brinca de ser mãe, pai, médico, bombeiro, a criança compreende o que é “ser” ou “estar” nestas funções e isto a prepara para a entrada na vida adulta.

Muitas vezes, são nestas brincadeiras, experimentando diferentes papéis sociais que a criança pode desabrochar aptidões, que futuramente podem guiá-la em suas escolhas futuras, como por exemplo, na escolha de uma profissão. Numa simples brincadeira em grupo, por exemplo, além do convívio social, as crianças tem a oportunidade de internalizar dinâmicas complexas que a preparam para a vida adulta, como por exemplo:


 Resolver conflitos e enfrentar desafios;

Compreender e respeitar regras;

Conhecer seus próprios limites;

Experimentar situações diversas: agradáveis e desagradáveis, favoráveis e desfavoráveis;

Construção de vínculos afetivos

Cooperação;

Liderança;

Competição;

 Além disso, quando brinca, as crianças têm a oportunidade de desenvolver:

a linguagem;

o pensamento;

a criatividade;

 a socialização;

a iniciativa;

a autoestima;

 

O adoecimento psíquico de crianças por uso de telas


O fenômeno necessita de atenção da sociedade, principalmente pós pandemia quando a utilização de telas aumentou devido o isolamento social. Atualmente com a modificação da forma de utilização das mídias digitais celulares, tablets e outros dispositivos que cabem na palma da mão, modificaram nossa forma de comunicação e de existência no mundo. Na falta desses dispositivos podemos inclusive desenvolver uma condição chamada no-mobile, onde a pessoa possui crises de ansiedade frente a falta do dispositivo sendo necessário que se busque imediatamente o aparelho para que se tenha a redução do sofrimento. Hoje vamos tratar dos problemas descrito na literatura sobre o excesso de uso ao longo do tempo, que atualmente se tornou um comportamento social.

O tempo de tela é entendido como o tempo total pelo qual a criança faz uso das telas. O tempo de uso superior ao tempo recomendado que de acordo com a American Academy of Pediatrics (AAP), seria por volta de duas horas por dia. Além disso, o conteúdo deve ser criteriosamente escolhido pelos pais, visto que a internet possui muitos conteúdos não educativo e que não estão adequado a faixa etária. O aumento de tela aumentou na sociedade visto que os diversos ambientes atualmente expõe as crianças a multitelas, com muita informação e estímulos. Assim o tempo de exposição à tela é considerado um fator de risco para a saúde da criança.
O uso de telas pode gerar vulnerabilidades para algumas doenças, tais como: obesidade infantil, hipertensão, ansiedade, depressão, bem como diminuição das relações sociais e afetivas, tão importantes para a criança e adolescente. O tempo de exposição também facilita o uso de conteúdos impróprios e hoje já se associa a atrasos nos domínios da linguagem e desenvolvimento motor fino. As crianças do mundo contemporâneo são considerados nativos digitais e ficam imersos nessa condição cada vez mais cedo. Sabemos que os avanços tecnológicos são favoráveis a humanidade quando utilizados de forma correta. A forma de viver e se comunicar se condicionou ao uso da tecnologia que tem no recurso visual e auditivo, presentes nas telas um atrativo para as crianças e adolescentes. Mas atualmente até os adultos estão imerso nessa cultura.

Principais problemas que a criança e o adolescente podem ter pelo excesso do uso de telas:
Alterações no comportamento alimentar;
Distúrbios alimentares com Ganho ou perda de peso;
Sedentarismo e diminuição de prática de atividades físicas importantes para o desenvolvimento;
Distúrbios do sono;
Dificuldades de interação social e familiar;
Diminuição do rendimento escolar;
Dificuldade de aprendizagem;
Diminuição da auto estima;
Ansiedade, depressão e agressividade;
Alteração severa no comportamento.
Dependência Digital e Uso Problemático das Mídias Interativas;
Transtornos do déficit de atenção e hiperatividade;
Bullying & cyberbullying;
Riscos da sexualidade, nudez, sexting, extorsão, abuso sexual, estupro virtual;
Aumento da violência, abusos e fatalidades;
Problemas visuais diversos e síndrome visual do computador;
Problemas auditivos, diminuição auditiva pelo uso de fones e alta frequência sonora;
Transtornos posturais e musculoesqueléticos;
Aumento do comportamento de automutilação e suicídio;
Aumento do uso de álcool e outras drogas no adolescente.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) já se pronunciou pedindo atenção dos profissionais de saúde para o problema. Informa que a sociedade precisa discutir a temática. Os riscos envolvem o desenvolvimento de transtornos psíquicos e problemas comportamentais, sendo abordado no novo CID-11 como dependência digital. A SBP cria um manual de orientações que vamos destacar para melhor compreensão:

Evitar exposição a telas por crianças com menos de 2 anos mesmo que passivamente;
Limitar o tempo de uso de tela em no máximo de 1 hora por dia para crianças entre 1 ano 5 anos de idade;
Limitar o tempo de uso de tela em no máximo 2 horas por dia para crianças entre 6 e 10 anos de idade;
Limitar o tempo de tela e jogos de videogame em no máximo três horas por dia com supervisão. Não sendo possível “virar a noite” jogando para adolescentes entre 11 e 18 anos;
Para todas as idades não é recomendado o uso de telas durante as refeições e não utilizar antes de dormir, sendo necessário desconectar duas horas antes do sono;
Oferecer atividades de utilização do corpo, podendo ser atividades esportivas ou recreativas, ao ar livre com contato direto com a natureza e outras crianças ou adolescentes;

Os estudos mostram que os jogos podem ser educativos, mas também podem gerar agressividade e intolerância da criança e do adolescente com outras pessoas, por isso devem ser melhor avaliado pelos responsáveis. Por isso devemos orientar os país e responsáveis sobre a alfabetização midiática e realizar a mediação parental para capacitar as famílias, escolas e comunidade sobre o uso ético e seguro da internet, levando a uma construção saudável do uso. As famílias devem observar as classificações indicativas.

Podemos enquanto profissionais orientar a criança, o adolescente e a família, mas antes de tudo é necessário acolher a todos e construir um projeto terapêutico singular voltado a subjetividade dos problemas. Dessa forma, o cuidado se faz de maneira mais humana e compreendendo o nível de saber sobre o assunto que a família possui. É importante que o profissional oriente a família a não buscar medidas de violência na tentativa de evitar o uso, nos casos graves de dependência. Para isso, deve haver um projeto que envolvam os diversos atores que podem compor o processo terapêutico.