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Bocão 64

domingo, 25 de setembro de 2022

‘Equilibrando os pratinhos’: como ser mulher, mãe, profissional


Apesar dos avanços conquistados em ocupar mais espaços, não há tempo suficiente para que a mulher desempenhe com excelência todos os papéis que lhe são atribuídos ou que ela escolhe desempenhar (profissional, mãe, companheira, amiga…). Como a conta não fecha dentro das 24 horas diárias, a experiência de ser mulher demanda “equilibrar os pratinhos”, sem deixar nada cair ou quebrar.

Há ainda poucas empresas no Brasil que tentam tornar esse percurso menos díspar em relação aos homens, oferecendo condições estruturais básicas para que a mulher consiga conciliar a carreira profissional à maternagem, sem impor a escolha de uma em detrimento da outra. Mais do que flexibilidade de horários ou possibilidade de home office, ou ainda benefícios que vão do plano de saúde ao kit fralda, é preciso equiparar as licenças maternidade e paternidade, para que ambos os pais possam estar presentes integralmente nos primeiros meses de vida do bebê.

Desde 2016, com a aprovação do Marco Legal da Primeira Infância, empresas cadastradas no Programa Empresa Cidadã concedem 20 dias de licença aos pais e seis meses às mães.

“Ainda falta entender que crianças precisam ser criadas pelos pais e pelas mães”, provoca Cris Bartis, cocriadora do Mamilos Podcast e mãe de Tamires, 10 anos, e Amós, 2 anos. “É muito difícil se separar de um bebê pequeno enquanto ainda estamos entendendo quem é quem nessa nova configuração familiar. Ficar sem ele é quase a sensação de falta de ar”, define. Mas, mesmo assim, “é preciso criar forças e voltar”. 
“O que é um parto perto da volta ao trabalho depois da licença? É muito medo e insegurança de que você não vai conseguir produzir o suficiente”

Raphaella Martins Antonio, publicitária e mãe de Liz, 2 anos, concorda com a urgência da paridade de uma licença parental, como forma de provocar uma revisão cultural. “A sociedade hoje está toda estruturada na ideia de que a responsabilidade do maternar é apenas da mãe, desde a licença-maternidade, que é maior para elas, até detalhes como trocador de bebê apenas nos banheiros públicos femininos.”

“Nesse modelo de sociedade, nosso corpo é o capital de trabalho”, completa Cris. “Como o corpo da criança ainda não produz, é invisível aos olhos dessa lógica. Nós, como principais cuidadores, responsáveis por criar os futuros produtos do capital, não temos esse trabalho reconhecido, tampouco remunerado.”

Cris Bartis, comunicadora e mãe de Tamires e Amós: “Nesse modelo de sociedade, nosso corpo é o capital de trabalho. Nós, responsáveis por criar os futuros produtos do capital, não temos esse trabalho reconhecido, tampouco remunerado”

Números comprovam o impacto de as “tarefas” do cuidar seguirem intimamente associadas à figura feminina: 30% das mulheres já abriram mão de seus empregos após se tornarem mães, número superior quatro vezes ao de pais. Dessas, apenas 8% conseguiram voltar em menos de seis meses (contra um índice de 33% para os homens), apontou pesquisa realizada pela empresa de recrutamento Catho, em 2018. Como alternativa muitas vezes de sustento e renda extra, elas dominam o chamado “empreendedorismo feminino”.

O Brasil é o sétimo país com o maior número de mulheres empreendedoras – elas são mais de 24 milhões de brasileiras. O dado é de um levantamento da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado com 49 nações.

Raphaella relata que já ouviu muitas vezes entrevistadores perguntarem se queria ser mãe ou se engravidar estava em seus planos, a que respondia com um “sim, o mais rápido possível”, diz. “Também questionava, de forma irônica, qual o impacto da pergunta na rotina e os critérios do perfil, além de já automaticamente descartá-la da lista, com a ciência de que uma empresa que não valoriza ou rejeita o que me é tão caro, não serve para mim.”

Para Vanessa Cabral, gerente executiva da área de Pessoas e Cultura e mãe de Laura, de 1 ano, “a pluralidade torna o ambiente mais rico, aberto a trocas e próspero para boas ideias”. Ao adotar práticas de bem-estar para as mulheres, ela acredita que “os benefícios impactam os colaboradores de forma geral, trazendo um olhar mais humano para as organizações”, declara. Vanessa foi promovida a uma posição executiva quando estava com quase cinco meses de gestação.

De quem falamos quando falamos de ‘equilibristas’?
Mas, quando falamos em equilibrar trabalho, cuidado com filhos, inserção e reconhecimento no mercado, equiparação salarial, divisão das tarefas domésticas, trata-se de um recorte de feminismo branco, alerta Cris Bartis. “Não estamos falando de todas as mulheres. A cada uma dessas brigas, vamos perdendo mais mulheres. Quando falamos de conquistas ou retrocessos, consideramos apenas aquelas que conseguiram avançar; tem gente que nem chegou a esse lugar e as questões estão em outro patamar, como saneamento e creche para deixarem os filhos enquanto cuidam dos nossos. Não existe direito adquirido em definitivo”, lembra.
Como equilibrar os sentimentos nessa jornada?
“O que será que uma mãe
faz,
além de ser mãe?
Ser mãe dói demais.
Todas as mães precisam
do direito fundamental
de serem mulheres
também.”
Poema Direito Fundamental, de Ana Suy, no livro “A corda que sai do útero”

Diante da tendência de um mercado mais preocupado em acolher as mulheres, dando-lhes suporte mínimo, e companheiros melhor esclarecidos em relação ao equilíbrio de comprometimento com as questões do lar e em apoiar emocionalmente suas parceiras, ainda existe o sentimento de culpa que mulheres tentando “equilibrar os pratinhos” costumam carregar consigo e o julgamento alheio a que estão sujeitas.

Maria Candida Baumer Azevedo, sócia-fundadora da People & Results e mãe de Duda, 5 anos, e Arthur, 8 meses, sugere que a desconstrução e a reconstrução devem começar desde a primeira infância, quando a personalidade da criança é formada. “Mais do que criar filhos para a noção de equidade, é preciso criá-los para serem autônomos, seguros de si, automotivados, emocionalmente equilibrados, independentes”, defende. “Essa criança vai ser um adulto que se posiciona, com contundência e assertividade, criando seu próprio espaço”. 

Cris também acredita que não devemos esperar que a sociedade mude o suficiente, mas nos conclama a fazer a nossa parte. “Devemos protagonizar a mudança, desconstruindo o sentimento e dando abertura para que outros possam nos ajudar em determinados papéis, mesmo que não saia exatamente do nosso jeito. A pergunta que nos cabe é: somos capazes de carregar o incômodo da imperfeição?”

“As pessoas me perguntam ‘como você dá conta?’ Mas quem disse que eu dou conta?”, questiona-as de volta. “Lido todos os dias com coisas por fazer, mas é justamente esse lugar da humanidade que devemos reivindicar, para validar nossas justificativas e entender que não dar conta não é tão ruim assim.”

Os impactos da maternidade na vida e na carreira das mulheres


A mulher ficou confinada por séculos, dedicando-se exclusivamente ao cuidado da casa e dos filhos. Foi depois da primeira guerra mundial que as mulheres passaram a ganhar aos poucos o espaço no mercado de trabalho, no Brasil a inserção da mulher no mercado de trabalho foi tardia e, quando homens foram para frente de batalhas e retornaram com sequelas, e muitos vieram a óbito.

As mulheres não tiveram seus direitos inicialmente assegurados e havia uma enorme exploração da mão de obra feminina, ganhando menos que os homens e com carga horária muito superior, sendo exposta a insalubridade. Foi a Constituição de 1934 que garantiu jornada diária de oito horas, equiparação salarial, descanso semanal, férias remuneradas, licença-maternidade remunerada, proibição de mulheres em trabalhos insalubres, assistência médica e sanitária às gestantes, e impediu que fossem demitidas no período gestacional.
De lá em diante, as leis trabalhistas sofreram diversas alterações, assegurando direitos da mulher no ambiente profissional. Assim, ao longo dos tempos as mulheres, vieram conquistando paulatinamente espaço na sociedade e sua presença no mercado se consolidaram. Atualmente as mulheres no Brasil já são a maioria da população e uma grande parte é responsável pelo sustento de sua família. O que torna essa realidade repleta de desafios, ao tentar conciliar vida pessoal, profissional, com o papel de mãe, em especial a maternidade.

Ainda há obstáculos
Mas a desigualdade de gênero ainda existe e cria vários obstáculos para as mulheres no mercado de trabalho, e, ao se ampliar este papel da mulher no mercado de trabalho, mudaram-se conceitos de ser mulher, e surgiu a questão de a mulher retardar, a maternidade. Com o surgimento da pílula, a gravidez passou a não ser mais uma obrigação para elas e, sim uma opção, e com o auxilio da medicina, esta passou a ser planejada e muitas vezes desejada. E hoje a escolha da mulher em ter filhos depende daquilo que ela está envolvida e valorizando naquele momento, de suas preocupações em evoluir a carreira, ou em deixar passar o período fértil.
Assim, a maternidade é um desafio para as mulheres, pois ainda exista a questão da dupla jornada e elas são, em maioria, as únicas responsáveis pelas tarefas domésticas e cuidado com os filhos. O resultado é que o percentual de mulheres executivas sem filhos é maior do que o de homens (45% executivas, para 19,3% dos homens).

Percebe-se que para os homens o trabalho e família são complementares. Para a mulher, as duas áreas são demasiadamente importantes, entrando muitas vezes, em conflito e, por esse motivo, cada vez mais brasileiras adiam a maternidade, para ter filhos após os 40 (quarenta) anos de idade. O Ministério da Saúde mostrou que as mulheres, que optaram pela maternidade após esta idade (40), aumentou para 49,5% em 20 anos.
Observamos que muitas vezes as mulheres carregam um sentimento de culpa, por supostamente, estar falhando como mães, ou profissionais. São sentimentos ambíguos, entre a carreira e a maternidade, que obriga a maioria das mulheres a se tornar equilibrista para conciliar as duas coisas de forma muito inspiradora. Afinal, as mulheres atualmente querem a conquista do sucesso profissional, estabilidade financeira, para então decidir formar uma família.

O desafio da maternidade
A maternidade, por vezes, vem como uma escolha para a mulher, entre filhos e carreira, entre esperança e medo, o que a maioria das profissionais sentem quando decidem ser mães. As mulheres que querem ter filhos, ainda sentem a necessidade de adiar a maternidade por receio de perder oportunidades enquanto tentam conciliar carreira e família. E dados apontam que uma maioria das profissionais deixa o emprego após o nascimento do primeiro filho

Nesse sentido, algumas empresas estão preocupadas em reter seus talentos e desenvolvem políticas e programas que atendem a necessidades da mulher, proporcionado que ela concilie a vida profissional, pessoal e o papel de mãe, tais como, creche, espaço de amamentação, entre outros.

Entendemos que com uma divisão de tarefas de forma mais justa e parceria dentro do ambiente familiar, mais mulheres deixariam de ter dificuldade em conciliar trabalho e afazeres domésticos para se dedicar a conquistas e a cargos sonhados – e isso também é fundamental para a mudança social.

Mulheres na tecnologia: os desafios femininos no setor

Apesar do crescimento, as mulheres na tecnologia ainda são minoria. É uma área de atuação ainda predominantemente masculina e com pouco incentivo à qualificação feminina. 

As dificuldades já começam no momento de decisão pela carreira, pois elas não são encorajadas a seguir profissões em tecnologia. Além disso, a falta de representatividade e as poucas oportunidades em ambientes inclusivos também geram consequências negativas.

Mas, mesmo com todas as adversidades, neste artigo você poderá entender os avanços que estão acontecendo e como é possível promover maior diversidade na tecnologia para abrir espaço para mais mulheres atuarem na área.

Qual é o contexto das mulheres na tecnologia?
A quantidade de oportunidades na área de Tecnologia da Informação (TI) é muito grande e, portanto, contar com a participação de mais mulheres é fundamental. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), apontou que, até 2024, é estimada uma lacuna de 270 mil profissionais de TI, o que irá provocar uma perda de receita em torno de R$ 167 bilhões.

Segundo a pesquisa Women in Technology, da Michael Page, as principais razões por trás do baixo número de mulheres líderes de tecnologia são:

• 38% – falta de inscrições por parte das mulheres;

• 37% falta de oportunidades para as mulheres;

• 25% – escassez de talentos femininos com o conhecimento exigido;

• 17% – falta de experiência necessária para ocupar o cargo.

Mesmo com todas essas adversidades, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), apontou que a participação das mulheres cresceu 60% nos últimos cinco, passando de 27,9 mil para 44,5 em 2019. No entanto, o avanço ainda é tímido e elas representam somente 20% dos profissionais de tecnologia do país.
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a tendência é que, em 10 anos, a participação das mulheres no mercado de trabalho deve crescer mais do que a dos homens em diversos segmentos, entre eles, ciência e tecnologia.

Um ponto fundamental é que as empresas precisam se lembrar de que equipes diversas geram soluções mais diversas e eficazes, o que tem o potencial de proporcionar muito mais rentabilidade para o negócio. Por isso, incentivar a atuação das mulheres na tecnologia é benéfico para todos os envolvidos.

Quais são os principais desafios enfrentados pelas mulheres?
As barreiras existem e precisam ser superadas. Para a mulher, infelizmente ainda é muito mais difícil se firmar na área de tecnologia. Entre os principais desafios enfrentados, estão:

Falta de incentivo
O problema, como já mencionado anteriormente, começa na escolha da graduação: por mais que 60% dos formandos do ensino superior no Brasil sejam mulheres, somente 23,9% delas se formam em cursos de engenharia.

Quando pensamos em tecnologia, ainda há uma associação direta ao homem branco, nerd e milionário. As mulheres, portanto, não costumam se enxergar em uma posição dentro desse universo. Normalmente, são associadas às áreas de marketing e comunicação, enquanto o homem é associado às áreas de construção, o que afasta a entrada delas no ramo.
Autoexigência feminina
 

Visto que o setor de tecnologia dominado por homens, as mulheres que optam por seguir essa carreira acabam sendo muito mais exigentes consigo mesmas e cultivam a mentalidade de que precisam sempre se provar boas o suficiente, o que atrapalha a autoestima.

Os dados não mentem: elas tentam 20% menos vagas do que os homens porque entendem que precisam cumprir 100% dos requisitos. Os homens, por sua vez, costumam se candidatar cumprindo apenas 60% dos requisitos.

Diferenças de salários
De acordo com a empresa de recursos humanos, Revelo, a diferença de salários entre homens e mulheres na área de tecnologia era de 22,4% em 2017 e passou para 12,4% em 2019. Para se ter uma ideia dos números, a média das propostas de remuneração das mulheres em 2019 foi de R$ 5531,00, já a dos homens foi de R$ 6829,00.

Esse tipo de disparidade gera frustração e desmotivação, afinal, é muito difícil para as mulheres aceitarem que independentemente da dedicação e qualificação, já sairão ganhando menos.

Falta de representatividade
São poucas as mulheres que são referências em tecnologia, o que também contribui para que muitas meninas que se interessam pela área não se sintam encorajadas. O fato de o setor com muito mais homens e existirem várias dificuldades para as mulheres se firmarem faz com que boa parte desista de seguir carreira.

A representatividade é fundamental para que elas sintam que é possível chegar lá e mudar essa realidade, por isso, a luta das mulheres pela causa é muito importante.

Preconceitos
Por fim, assim como em todo o mercado de trabalho, na área de tecnologia as mulheres também precisam lidar constantemente com os preconceitos. Elas ainda são tidas como o “sexo frágil” e características como a sensibilidade são analisadas sob um viés negativo por muitas empresas.
Acesso à informação e qualificação
O acesso à informação de qualidade sobre tecnologia pode fazer a diferença, tanto para despertar o interesse das mulheres como para tirar dúvidas sobre o setor. O portal “Mulheres na Computação” foi um dos pioneiros sobre o assunto e traz muitos conteúdos interessantes,

A qualificação também é fundamental e iniciativas que visam oferecer oportunidades para as mulheres são muito importantes para acelerar a inclusão. Uma parceria entre a Catho e a Let’s Code, escola de programação para desenvolvedores, foca em contratar cada vez mais mulheres no segmento. 

Para isso, ofereceram 25 vagas para um curso gratuito voltado para as mulheres. Com duração de 8 meses, o foco é aprender a programar por meio de aulas ao vivo e online, além de ter acesso à capacitação voltada para as soft skills necessárias para atuar na área. Além disso, em 2020 a Catho criou o “Essa cadeira é minha”, um projeto com foco na inserção de mulheres em tecnologia por meio de mentorias, capacitação e empregabilidade.

O Google, por sua vez, tem um compromisso com a promoção de um ambiente de trabalho mais diverso e conta com iniciativas como o “Cresça com o Google”, um programa de capacitação profissional gratuito. No Brasil, desde 2017 disponibilizam treinamentos especialmente para mulheres. O programa conta com uma etapa, “Cresça com o Google para Mulheres na Tecnologia”, que aborda os desafios na área, como aplicar as habilidades na prática e oportunidades no mercado.

Além disso, para incentivar as jovens mulheres a seguir carreira na programação, o Google também promove o “Change the game”.

Criação de comitês dentro das empresas
Para mudar a realidade dentro das organizações, é importante a criação de comitês que visam promover um ambiente de trabalho mais inclusivo. É necessário que novos processos, baseados na diversidade, sejam construídos. Além disso, o dia a dia deve ser propício ao desenvolvimento e crescimento de todos, inclusive das mulheres em tecnologia.

Os processos seletivos para vagas no setor, por sua vez, precisam ser revisados com o foco em aumentar a divulgação voltada para mulheres. Da mesma forma, os planos de carreira para elas também devem ser estruturados com atenção para que as mesmas oportunidades sejam dadas a todos. E, por fim, as remunerações entre homens e mulheres de tecnologia também precisam ser igualitárias.

Por: Tatiana Pimenta