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Bocão 64

sábado, 6 de agosto de 2022

IBGE atrasa pagamento de 44 mil recenseadores no país


O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) emitiu comunicado em que reconhece atraso no pagamento da ajuda de custo de quase um terço dos trabalhadores já treinados para o Censo 2022. São 44 mil profissionais com valores não pagos, em um universo de 158 mil pessoas qualificadas até sexta-feira (5).  

O IBGE não especifica o tempo de atraso nos pagamentos, contudo, o treinamento ocorreu de 18 a 22 de julho, conforme edital divulgado no site do órgão. Em outra página oficial do órgão, a carga horária das aulas é detalhada: oito horas por dia, durante cinco dias, em 10 mil salas de aula espalhadas pelo país. Quem foi selecionado para visitar indígenas e quilombolas teve um dia extra de capacitação. 

Pelos cinco dias à disposição do órgão, cada pessoa que atua em municípios com mais de 100 mil habitantes deveria receber R$ 200. Nas cidades com população abaixo dessa linha de corte, a diária cai pela metade. 

A confirmação de pendência no pagamento a 28% do público treinado foi publicada no perfil @ibgeoficial no Instagram. Na manhã deste sábado (6), menos de 24 horas após a publicação, o número de comentários se aproximava de 900. Em sua maioria, pessoas que estão na mesma situação. "Até agora nem 80 (reais), nem 120 ou 200, tô desanimando, porque as contas não esperam”, respondeu uma das pessoas. “Sou um dos 44 mil a espera”, publicou outro. Alguns ameaçam desistir do projeto, por temor da inadimplência.

Na postagem, há reclamações de profissionais do Rio Grande do Sul.

— Era para ser pago R$ 40 por dia. Vou aguardar essa promessa de colocarem em dia até a semana que vem — afirmou um contratado, que pediu para não ser identificado e informou que os trabalhadores teriam sido avisados de que o recebimento da ajuda de custo ocorreria cinco dias após o treinamento.

Em um grupo do Facebook que reúne recenseadores do RS, parte afirma ter recebido apenas parcialmente, enquanto outros integram a lista dos que não tiveram nenhum valor pago até este sábado. Uma enquete na rede social questionava quantas pessoas haviam recebido “tudo”, “apenas uma parte” ou “nada ainda”. Sem receber nada, responderam 54% dos participantes. Outros 35% afirmaram ter recebido tudo, e 10%, uma parte.

Instituto promete depósitos a partir de segunda-feira
A demora é justificada pelo "grande volume de dados pessoais dos recenseadores cadastrados no sistema", de acordo com o IBGE. Essas informações foram “processadas em um curto espaço de tempo, gerando lentidão no pagamento dos valores”, detalha a nota oficial. 

A promessa é realizar os depósitos até a próxima semana, a partir de segunda-feira (8). O instituto garante que o atraso não se repetirá nas próximas etapas do Censo e que o orçamento para realização, até o fim, está garantido. 

O levantamento se iniciou no dia 1º de agosto e vai até 31 de outubro, prorrogável caso haja dificuldade em finalizar a pesquisa, que mira em 75 milhões de domicílios no Brasil.  

Prestar informações aos agentes é obrigatório por lei, e importante para traçar um perfil da população. Os dados servirão de base para identificar problemas sociais e econômicos dos brasileiros.

O servidor pode ser identificado pela roupa: boné azul com o emblema “Censo 2022”, colete do IBGE e crachá com QR Code. Caso o cidadão queira, ainda pode acessar este link para confirmar que aquele é um recenseador oficial, digitando matrícula, CPF ou RG do trabalhador. 

Como falar outras línguas mexe com nosso cérebro


Estou na fila da padaria que frequento em Paris, pedindo desculpas ao atendente. Ele está totalmente confuso. Acabou de perguntar quantas baguetes eu queria e, completamente sem querer, respondi em mandarim, em vez de francês.

Estou igualmente perplexa: minha língua principal é o inglês, e não uso o mandarim devidamente há anos. No entanto, aqui, neste cenário mais parisiense impossível, o mandarim resolveu se reafirmar.

Quem fala mais de uma língua geralmente domina os idiomas que conhece com facilidade. Mas, às vezes, podem ocorrer deslizes acidentais. E a ciência por trás de por que isso acontece está revelando perspectivas surpreendentes sobre como nossos cérebros funcionam.

As pesquisas sobre como as pessoas multilíngues fazem malabarismo com mais de um idioma em suas mentes são complexas, e às vezes, contraintuitivas. Esses idiomas podem interferir uns com os outros, se intrometendo, por exemplo, na fala quando você não espera. E essas interferências podem se manifestar não apenas em lapsos de vocabulário, mas até mesmo na gramática ou no sotaque.

"Pelas pesquisas, sabemos que, sendo bilíngue ou multilíngue, sempre que você fala, todos os idiomas que você conhece são ativados", diz Mathieu Declerck, pesquisador da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica.

"Por exemplo, quando você quer dizer 'dog' ("cachorro", em inglês) como um bilíngue de francês-inglês, não apenas a palavra 'dog' é ativada, como também sua tradução equivalente, 'chien' ("cachorro", em francês), também é ativada."

Dessa forma, a pessoa que está falando precisa ter algum tipo de processo de controle de linguagem. Se você pensar bem, a capacidade dos indivíduos bilíngues e multilíngues de separar os idiomas que aprenderam é notável.

A forma como fazem isso é normalmente explicada por meio do conceito da inibição — uma supressão das línguas não relevantes.

Quando você pede a um voluntário bilíngue para dizer o nome de uma cor que aparece em uma tela em determinado idioma, e depois o nome da cor seguinte em outro idioma, é possível medir picos de atividade elétrica em partes do cérebro responsáveis pela linguagem e atenção.

Mas quando esse sistema de controle falha, intrusões e lapsos podem ocorrer. Por exemplo, a inibição insuficiente de um idioma pode fazer com que ele "apareça" e se intrometa quando você deveria estar falando em uma língua diferente.

O próprio Declerck, que é belga, está acostumado a misturar idiomas acidentalmente. Seu repertório linguístico inclui holandês, inglês, alemão e francês.

Quando trabalhava na Alemanha, a viagem habitual de trem que fazia para voltar para casa na Bélgica passava por várias regiões com idiomas diferentes — um verdadeiro treino para suas habilidades de alternância de idioma.

"A primeira parte era em alemão, e eu entrava em um trem belga em que a segunda parte era em francês", diz ele.

"E depois, quando você passa por Bruxelas, eles mudam o idioma para holandês, que é minha língua nativa. Então, neste período de três horas, toda vez que o cobrador vinha, eu tinha que trocar de idioma."

"Eu sempre respondia no idioma errado, de alguma forma. Era simplesmente impossível acompanhar."

Na verdade, cenários de troca de idiomas — como esse do trem, mas em laboratório — são frequentemente usados ​​por pesquisadores para aprender mais sobre como pessoas multilíngues dominam os idiomas.

E os erros podem ser uma ótima maneira de compreender melhor como usamos e dominamos os idiomas que sabemos.

Tamar Gollan, professora de psiquiatria da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA, estuda há anos o domínio da linguagem em indivíduos bilíngues. E sua pesquisa muitas vezes levou a descobertas contraintuitivas.

"Acho que talvez uma das coisas mais singulares que vimos em indivíduos bilíngues quando eles misturam idiomas é que, às vezes, parece que inibem tanto a língua dominante que, na verdade, acabam sendo mais lentos para falar em certos contextos", diz ela.

Em outras palavras, a língua dominante de uma pessoa multilíngue pode sofrer um impacto maior em certos cenários.

Por exemplo, na tarefa de nomear as cores, descrita anteriormente, pode levar mais tempo para um participante lembrar o nome de uma cor no seu primeiro idioma quando estava sintonizado no segundo idioma antes, em comparação com a situação inversa.

Em um de seus experimentos, Gollan analisou as habilidades de alternância de idioma de pessoas bilíngues em espanhol-inglês, fazendo-as ler em voz alta parágrafos que estavam apenas em inglês, apenas em espanhol, e parágrafos que misturavam aleatoriamente inglês e espanhol.

Os resultados foram surpreendentes. Mesmo que estivessem com os textos bem ali na frente deles, os participantes ainda cometeriam "erros de intrusão" ao ler em voz alta — dizendo acidentalmente, por exemplo, a palavra espanhola "pero" (que significa "mas"), em vez da palavra correspondente em inglês "but".

Esse tipo de erro acontecia quase exclusivamente quando estavam lendo em voz alta os parágrafos mistos, o que exigia alternar entre os idiomas.

O mais surpreendente foi que uma grande proporção desses erros de intrusão não eram palavras que os participantes haviam "pulado".

Por meio do uso da tecnologia de rastreamento ocular, Gollan e sua equipe descobriram que esses erros eram cometidos mesmo quando os participantes olhavam diretamente para a palavra em questão.

E embora o inglês fosse a língua principal da maioria dos participantes, eles cometeram mais erros de intrusão com palavras em inglês do que com as palavras que deviam dizer em espanhol, idioma que não dominavam tanto — algo que, segundo Gollan, é quase como uma inversão do domínio do idioma.

"Acho que a melhor analogia é imaginar que há uma condição na qual você de repente se torna melhor em escrever com sua mão não dominante", diz ela.

"Chamamos isso de dominância invertida, e estamos dando grande importância a isso, porque quanto mais penso sobre isso, mais percebo o quão único e louco isso é."

Isso pode acontecer, inclusive, quando estamos aprendendo uma segunda língua — quando os adultos estão imersos no novo idioma, podem achar mais difícil acessar as palavras na sua língua nativa.

De acordo com Gollan, os efeitos da dominância invertida podem ser particularmente evidentes quando os bilíngues alternam entre os idiomas em uma mesma conversa.

Ela explica que, ao misturar idiomas, os multilíngues fazem uma espécie de malabarismo, inibindo o idioma mais forte para equilibrar as coisas — e, às vezes, vão longe demais na direção errada.

Os bilíngues tentam tornar as duas línguas igualmente acessíveis, inibindo a língua dominante para facilitar a alternância", diz ela. "Mas, às vezes, eles 'excedem' nessa inibição, e acabam falando mais devagar do que na língua que não é dominante."

Medicina traz descobertas animadoras sobre como frear o envelhecimento


Alexandre, o Grande, o mítico general que lançou as bases da cultura helênica ao expandir os territórios da Macedônia e da Grécia ao Egito e parte da Índia, no século IV a.C., é considerado um dos maiores estrategistas militares de todos os tempos. Foi o responsável por mudar o curso da civilização ao permitir a integração da cultura da terra do filósofo Aristóteles, de quem foi pupilo, com os saberes orientais. Tal biografia lhe conferiu status de imortalidade histórica, e ele sabia disso. Contudo, o conquistador sonhou com a vida eterna também do corpo. Em sua jornada rumo ao Oriente, ele teria tentado localizar a tal fonte da juventude sobre a qual se falava nas conversas em que a mitologia pautava a realidade. Alexandre morreu aos 32 anos, cedo até para aqueles tempos. Seguiram-se a ele outros aventureiros, embalados pela ambição de encontrar o lugar de onde jorraria o líquido da mocidade. A dádiva, como se sabe, não existe. E quem a promete ainda hoje não merece confiança. Contudo, o que deve ser acompanhado com entusiasmo é a evolução da ciência na busca da vida mais longeva e plena.

Há um esforço sem precedentes nessa direção. Nos últimos anos, multiplicaram-se as pesquisas dedicadas ao entendimento do processo de envelhecer, resultando em achados fascinantes. Já se sabe que ele acontece em nível celular. Para se ter uma ideia, as células da pele de um recém-nascido se dividem até noventa vezes. As de pessoas mais velhas, vinte. É parte de um mecanismo biológico natural. O que não era esperado é que elementos externos como poluição, estresse e má alimentação ganhassem tamanha relevância na vida moderna a ponto de conseguirem interferir diretamente no material genético, provocando alterações que aceleram o desgaste estrutural do organismo. Por isso, grande parte dos estudos em andamento tem como objetivo criar meios de prevenir, detectar e tratar as transformações ocorridas dentro do maquinário celular e do DNA para interromper não o envelhecimento, mas a sua aceleração.

Duas das promessas mais recentes apareceram nos Estados Unidos e no Brasil. Lá, a empresa Elevian se prepara para iniciar no próximo ano estudos em humanos com uma proteína que, em animais, mostrou boa eficácia na restauração de estruturas danificadas. O primeiro trabalho envolvendo a GDF11, nome do composto, teve conclusão impressionante. Na Universidade Harvard, os cientistas queriam ver o que aconteceria no tecido cardíaco se o sangue de uma cobaia jovem fosse transferido para um animal velho. O coração acabou rejuvenescido e os pesquisadores, estarrecidos. Estudos posteriores revelaram que o vetor do feito era a proteína, hoje a aposta principal da Elevian, onde se pesquisam eventuais benefícios em órgãos como o cérebro e no sistema musculoesquelético, além do coração.

Por aqui, a Universidade de São Paulo publicou recentemente no periódico científico Nutrition artigo relatando o efeito de uma substância chamada taurina na redução do envelhecimento precoce. O composto auxilia as células a se livrar de moléculas nocivas fabricadas por elas próprias como reação a agressores externos e que podem levá-las ao estado chamado estresse oxidativo, extremamente associado a danos prematuros ao organismo. Depois de separar aleatoriamente 24 voluntárias com idade entre 55 e 70 anos em dois grupos, os cientistas brasileiros trataram metade com placebo e metade recebeu suplementos de taurina durante dezesseis semanas. Ao fim do período, as integrantes que tomaram as doses extras apresentaram maiores concentrações de substâncias que, como a taurina, auxiliam o processo de limpeza das células.

A evolução de outros campos de pesquisa também adiciona conhecimento valioso. Um dos mais reconhecidos, até pelo aspecto prático que oferece, é o que investiga o papel da flora intestinal na saúde como um todo. São relativamente recentes, contudo, as indicações de que mudanças ocorridas no microbioma podem estar associadas a um envelhecimento saudável. Sabe-se que o equilíbrio de microrganismos no sistema digestivo é decisivo para o bom funcionamento do organismo, mas, agora, o que se quer é descobrir se existe e qual seria a relação direta da flora na inibição dos fenômenos que levam a danos celulares precoces.

Um dos fatos que embasam os estudos é a constatação de que o perfil intestinal muda ao longo da vida. Nos três primeiros anos, sofre rápidas transformações. Depois, até a vida adulta, permanece o mesmo e só volta a se modificar na velhice. Estudos iniciais sugerem, porém, que quanto menos alterações nessa fase, melhor. O problema é que o consumo excessivo de alimentos processados e gorduras combinado ao sedentarismo contribui no sentido oposto. Por isso, autores de um dos mais recentes trabalhos sobre o assunto recomendam capricho na ingestão de tudo o que favorece a estabilidade da flora: frutas, grãos integrais, sementes e verduras, além de prática de exercícios.