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Bocão 64

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Usuários de maconha não são mais preguiçosos e desmotivados, diz estudo


Um estereótipo comum de usuários de cannabis é o 'chapado' — como o Jesse Pinkman em Breaking Bad, The Dude em The Big Lebowski ou, mais recentemente, Argyle em Stranger Things — geralmente descritos como preguiçosos e apáticos.

No entanto, um novo estudo aponta que os usuários de maconha não são mais preguiçosas e desmotivadas do que aqueles que não fazem o uso da substância, desmistificando o estereótipo frequentemente retratado na mídia. O trabalho mostra ainda que os usuários de cannabis também não mostram diferença na apatia ou comportamento baseado em recompensa em comparação com não usuários.

Uma equipe liderada por cientistas da University College London, da Universidade de Cambridge e do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King's College London realizou um estudo examinando se os usuários de cannabis apresentam níveis mais altos de apatia (perda de motivação) e anedonia (perda de interesse em ou prazer de recompensas) quando comparados aos não usuários e se eles estavam menos dispostos a exercer esforço físico para receber uma recompensa. A pesquisa fez parte do estudo CannTEEN.

A pesquisa, publicada no International Journal of Neuropsychopharmacology, analisou dados de 274 adultos e adolescentes que relataram usar maconha pelo menos uma vez por semana ao longo de três meses, com uma média de quatro dias por semana, e os comparou com não usuários da mesma idade e sexo.

CANNABIS
Usuários de maconha não são mais preguiçosos e desmotivados, diz estudo
A pesquisa analisou dados de 274 adultos e adolescentes que relataram usar maconha pelo menos uma vez por semana ao longo de três meses, com uma média de quatro dias por semana, e os comparou com não usuários da mesma idade e sexo.

Os participantes preencheram questionários para medir a anedonia, onde classificaram afirmações como “Gostaria de estar com a família ou amigos próximos”. Eles também preencheram questionários para medir seus níveis de apatia, classificando características como o interesse em aprender coisas novas ou a probabilidade de ver um trabalho até o fim.

Os usuários de cannabis pontuaram um pouco mais baixo do que os não usuários em anedonia — em outras palavras, eles pareciam mais capazes de se divertir — mas não houve diferença significativa quando se trata de apatia. Os pesquisadores também não encontraram ligação entre a frequência do uso de cannabis e apatia ou anedonia nas pessoas que usaram cannabis.
Martine Skumlien, candidata a PhD no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, afirma que o resultado foi surpreendente.

“Ficamos surpresos ao ver que havia realmente muito pouca diferença entre usuários e não usuários de cannabis quando se tratava de falta de motivação ou falta de prazer, mesmo entre aqueles que usavam cannabis todos os dias. Isso é contrário ao retrato estereotipado que vemos na TV e nos filmes", afirmou.

Em geral, os adolescentes tendem a pontuar mais alto do que os adultos em anedonia e apatia nos grupos de usuários e não usuários, mas o uso de cannabis não aumentou essa diferença.

Will Lawn, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London, afirma que, ao contrário do que se esperava, os adolescentes não estão mais vulneráveis ao uso da maconha.

“Há muita preocupação de que o uso de cannabis na adolescência possa levar a resultados piores do que o uso de cannabis na idade adulta. Mas nosso estudo, um dos primeiros a comparar diretamente adolescentes e adultos que usam cannabis, sugere que os adolescentes não são mais vulneráveis do que os adultos aos efeitos nocivos da cannabis na motivação, na experiência de prazer ou na resposta do cérebro à recompensa", disse.

E completou: “Na verdade, parece que a cannabis pode não ter ligação — ou no máximo apenas associações fracas — com esses resultados em geral. No entanto, precisamos de estudos que procurem essas associações por um longo período de tempo para confirmar esses achados”.


Desenvolvimento do cérebro na infância: como ajudar o seu filho a atingir todo o seu potencial


Ainda que as crianças não tenham sido incluídas nos grupos de risco da covid-19, a pandemia impactou o desenvolvimento infantil em todo o planeta. É o que mostram alguns estudos recentes, entre eles uma pesquisa realizada com 255 bebês pelo Centro Médico Irving, da Universidade Columbia, em Nova York (EUA). Os resultados do estudo, que foi publicado em janeiro último, no periódico científico JAMA Pediatrics, indicam que os nascidos no primeiro ano da pandemia tiveram uma performance inferior em testes de habilidades sociais e motoras aos 6 meses, comparados a bebês que nasceram nos anos anteriores (independentemente de a mãe ter contraído covid-19 ou não na gestação).

Outra pesquisa, divulgada no segundo semestre de 2021, da Universidade Federal do Rio de Janeiro em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV), feita com crianças de 4 e 5 anos, concluiu que, em 2020, elas aprenderam em um ritmo mais lento, com perdas estimadas de até quatro meses para linguagem e matemática. O estudo também mostrou que o abalo foi pior entre aquelas em situação de maior vulnerabilidade social.

O papel da pandemia
A psiquiatra Mariana Pedrini Uebel, autora do recém-lançado "O Cérebro na Infância - Um Guia para Pais e Educadores Empenhados em Formar Crianças Felizes e Realizadas" (Editora Contexto), ressalta ainda que sintomas como atraso da fala, dificuldade de interação social, ansiedade, pânico e depressão se tornaram mais comuns no consultório nos últimos tempos.

“Além do fechamento das escolas, o sedentarismo, maus hábitos alimentares e de sono e o aumento no uso das telas favoreceram o crescimento de tais problemas, que podem levar a dificuldades no aprendizado”, explica. Segundo a especialista, os sintomas emocionais que já eram velhos conhecidos das famílias foram acentuados pela pandemia. “Nesse intervalo, o nosso sistema límbico, que é uma parte mais primitiva do cérebro ligada ao medo, foi bastante acionado, uma vez que fomos expostos ao desconhecido e nos sentimos vulneráveis. Nós, adultos, buscamos prazer na bebida, comida e redes sociais para compensar. Mas imagine como foi difícil para as crianças, com o cérebro ainda em desenvolvimento”, conclui a psiquiatra.

Sempre em atividade
Vale lembrar que o desenvolvimento cerebral tem início nas primeiras semanas da gravidez, mas só se completa no início da vida adulta, conforme explica Mariana em "O Cérebro na Infância". Nos primeiros anos, 1 milhão de novas conexões neurais (chamadas sinapses) são formadas por segundo. Ao longo desse período de vasta superprodução, as conexões pouco utilizadas são eliminadas para que a comunicação entre os neurônios se torne mais eficiente. Daí a importância dos estímulos variados. Esse fenômeno é conhecido por poda cerebral e ocorre até por volta dos 25 anos, com menor intensidade.

Saiba, ainda, que o amadurecimento do sistema nervoso começa nas regiões associadas às funções mais básicas, como as áreas motoras e sensoriais. Na sequência, chega a vez das áreas ligadas à linguagem. Já as funções executivas (gestão dos processos cognitivos, como memória, planejamento e execução de tarefas) estão entre as últimas habilidades a serem adquiridas por completo. Mas, diferentemente do que se imaginava tempos atrás, o cérebro não é estático. Por essa razão, somos capazes de nos adaptar a mudanças e aprender por toda a vida. Chamada de neuroplasticidade, essa característica, no entanto, é mais evidente na primeira infância (0 a 6 anos), fase em que o órgão está se moldando.

“A neurociência tem mostrado que o cérebro do bebê, além de ter uma excelente plasticidade, apresenta janelas ótimas de desenvolvimento: períodos sensíveis em que a criança tem mais condições de adquirir novas habilidades, totalmente dependentes de experiências, nos primeiros anos de vida”, resume Mariana, no livro. E o que você pode fazer para ajudar o seu filho a atingir todo o seu potencial? “Assumir o protagonismo nessa história, enquanto cuidador”, completa Mariana Luz, CEO da FMCSV. Confira alguns caminhos a seguir.


Em coma, surfista brasileiro teve problema inicialmente no dente; entenda

O surfista brasileiro Júnior Enomoto, conhecido como "Japa", foi hospitalizado em Bali, na Indonésia, com o diagnóstico de infecção pulmonar causada por uma bactéria. O problema foi causado incialmente por uma infecção em um dente e o surfista está em coma. Atualmente, o surfista está na UTI do BIMC Nusa Dua, na Indonésia.

De acordo com o cirurgião-dentista Flávio Pinheiro, as infecções odontogênicas têm origem periodontal ou periapical e, se não forem tratadas, podem progredir para os espaços fasciais, podendo levar até a morte. No caso do surfista, os médicos encontraram uma cavidade no pulmão esquerdo e o pneumologista disse que possivelmente será necessário que o brasileiro seja submetido a uma cirurgia. 

Como tratar uma infeção dentária? 

Segundo Flávio, o protocolo de tratamento mais comum para as infecções odontogênicas é a remoção da "causa", ou seja, daquilo que está causando a infecção. 

"Essa remoção é feita através de exodontias ou tratamento endodôntico, seguida de drenagem da secreção purulenta e antibioticoterapia", explicou. 

Conforme o profissional de saúde, os dentistas devem sempre estar atentos de que essas infecções ocasionalmente podem tornar-se graves e pôr a vida em risco em um curto prazo de tempo. 

"Os casos gravíssimos onde a infecção evolui e o paciente morre ocorrem quando a infecção atinge áreas distantes do processo alveolar. Apesar de que a maioria dos processos infecciosos em seus estágios iniciais seja bem controlado com intervenção cirúrgica e com uso de antibióticos", ponderou. 

Por fim, o dentista afirmou que fatores como a demora na procura do atendimento especializado, a demora do uso de antibióticos, condições sistêmicas imunossupressoras do paciente e virulência do microrganismo podem contribuir para a rápida disseminação do processo infeccioso. 

"É muito importante que o cirurgião-dentista seja procurado imediatamente e informado de condições que favorecem a progressão da doença, porque a partir disso, é necessário que o profissional aja com a finalidade de diagnóstico de um quadro de potencial gravidade."
 
A comunidade próxima a 'Japa' se moibilizou e organizou uma vaquinha para arrecadar doações para os procedimentos médicos. 

Análise: Burnout não é doença e esconde diagnósticos psiquiátricos


Burnout não é doença, e classificá-lo desta forma é o maior desserviço à medicina e aos pacientes. É essa a opinião do médico psiquiatra Estevam Vaz de Lima, que atua como perito do TRT 2ª região.

Em entrevista concedida ao Migalhas, o médico destaca que houve, inicialmente, um uso informal da noção de burnout, o qual existe desde as décadas de 70, 80, e se iniciou como uma gíria.

Diferente é a situação quando a palavra é usada como uma doença. Neste caso, na avaliação do especialista, o conceito é perigoso e prejudicial, visto que pode "carregar consigo" vários diagnósticos psiquiátricos, impedindo tratamento adequado por parte do paciente.

Vaz de Lima diz que há pelo menos oito argumentos capazes de refutarem a hipótese da classificação como doença. "Quando você se debruça sobre os conceitos para ver que doença é essa, você começa a encontrar aspectos que são realmente insustentáveis como uma doença, como uma 'entidade clínica'."

Questionário

Vaz de Lima explica que o diagnóstico de burnout é feito a partir de um questionário chamado MBI, que, explicado muito sinteticamente, é um conjunto de 22 perguntas relacionadas a experiências desagradáveis com o trabalho. Mas, segundo Estevam, o questionário acaba por identificar o burnout em todo e qualquer respondedor, ou em grau mais leve, ou mais severo.

“Mesmo que você sinta-se sobrecarregada de trabalho uma vez no ano, você vai ser considerada em burnout leve. Mesmo que você indique 'nunca' nos quesitos do MBI, mesmo assim você vai ser considerada em burnout leve pelo simples fato de estar trabalhando."

Estevam explica que, por fazer um diagnóstico muito amplo e genérico, o burnout acaba carregando consigo cerca de 30 diagnósticos psiquiátricos diferentes.

E qual o problema disso? Ele dá um exemplo: um médico sofre de depressão grave, com risco de suicídio. Se ele responder ao MBI, vai ser diagnosticado com burnout grave. Esta seria uma grave omissão, que impediria o homem de tratar devidamente a depressão.

Segundo Lima, é muito comum, em casos de exaustão pelo trabalho, a recomendação de mindfullness, yoga e prática de exercícios físicos, por exemplo. "Essa é a última coisa que você deve recomendar a uma pessoa com depressão grave com risco de suicídio. Na verdade, vai aumentar o risco."

Para o médico, a confusão se dá porque o burnout foi inserido em uma CID – sigla para Classificação Internacional de Doenças. Ele explica que nem tudo o que está na CID é doença, e afirma que, no dia seguinte ao anúncio da CID 11 em uma coletiva de imprensa, a OMS publicou em uma página oficial uma declaração de que burnout não é doença.

Em um texto publicado em 28 de maio de 2019 em seu site oficial, a OMS diz expressamente: "It is not classified as a medical condition", ou, “não é classificada como condição médica”. Em verdade, burnout está na lista de itens que influenciam o estado de saúde ou o contato com serviços de saúde, mas que não são classificados como doença.

Os sintomas são: sentimentos de esgotamento ou exaustão de energia; aumento da distância mental do trabalho, ou sentimentos de negativismo ou cinismo relacionados ao trabalho; e eficácia profissional reduzida.

Ministério do Trabalho

Além disso, muito antes da OMS, a legislação brasileira incluiu o burnout na lista de doenças do Ministério do Trabalho. Em texto publicado em novembro de 2020 no site do ministério diz: “A principal causa da doença é justamente o excesso de trabalho".

“A visão legal vai de encontro à postura formal da OMS. Isso levanta um problema sério, por exemplo, em perícias médicas. Como o perito vai diagnosticar burnout quando a referência internacionalmente aceita para isso diz que não é doença?”

Para o médico, o burnout ainda deve ficar muito tempo "por aí", mas, em algum momento, acredita que o tema terá de ser resolvido.