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quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Mulher sofre abuso no PA e tem que escolher: 'Tiro na mão ou raspar cabeça'


A podóloga Nathalia Rodrigues, 22, denunciou nas redes sociais ter sofrido um sequestro em que, além de ter sido roubada e abusada sexualmente, teve que responder aos criminosos se "escolheria" levar um tiro na mão ou ter o cabelo raspado antes de ser libertada, em Belém. A jovem teve quase toda a cabeça raspada e decidiu adiar o casamento e a conclusão do curso universitário de enfermagem, previstos para os próximos meses.

O crime ocorreu na manhã de sexta-feira (23), no bairro Val-de-Cães, quando ela saía de casa para seguir ao trabalho, por volta das 7h da manhã. Ela diz ter sido abordada por um homem que acompanhava um segundo criminoso que dirigia um onix peliculado verde.

Ele apontou uma arma para mim e me puxou para dentro do carro", lembrou a mulher em entrevista ao UOL. Ela conta que, durante toda a ação, os bandidos ameaçaram matar a jovem e seus familiares, além de assediá-la sexualmente.

"O bandido que estava comigo ficou passando a mão pelo meu corpo e disse que eles poderiam até ser presos, mas que, quando saíssem, viriam atrás de mim e da minha família".

Nathalia conta que a dupla ficou por pelo menos uma hora rodando de carro com ela pela cidade, tempo em ficou sob a mira de um revólver. Ao final, eles pediram que ela escolhesse entre ter a cabeça raspada ou levar um tiro na mão.

Fui torturada e ameaçada. Como 'escolhi' raspar a cabeça para não receber um tiro, o bandido que estava comigo pegou uma máquina e começou a raspar o meu cabelo. Fiquei tão nervosa que só consegui olhar para a arma que ele estava me apontando. Ainda estou sem acreditar".

Nathalia foi abandonada em uma rua do bairro Pedreira e teve documentos, celular e aliança roubados.

Crime "encomendado"?
Nathalia conta ainda que, em determinado momento, um dos criminosos disse que a ação seria uma resposta "a um B.O.".

Segundo a podóloga, ela suspeita que o crime tenha relação com a denúncia que fez, no mês passado, sobre um material que recebeu na porta de casa, após pedir demissão do antigo trabalho — ao qual ela se refere como "macumba" e atribui o envio à antiga empregadora.

"Ligaram para a clínica onde eu trabalho e perguntaram se eu estava trabalhando, possivelmente para saber se eu estava em casa para receber. Um tempo depois chegou um "tacho" de barro com imagens e esculturas de santos e a minha foto junto embrulhada para presente", contou. No material, segundo a mulher, ainda havia farofa no fundo do recipiente, um boneco de vudu espetado, caixões, velas, caveiras e uma escultura de tranca rua, sem bilhete.

Nathalia trabalhou por três anos na clínica Carinho do Pé e, em fevereiro deste ano, resolveu pedir demissão, segundo ela, por se sentir pressionada e não gostar do tratamento que recebia.

Por meio do advogado da clínica, Américo Leal Filho, a proprietária negou envolvimento no caso e atribuiu a acusação ao fato da empresária ser umbandista e a uma possível demonstração de visão distorcida da religião de matriz africana.

Minha cliente desconhece totalmente as alegações e recebeu a notícia com choque por que não tem esse tipo de comportamento e nunca passou pela cabeça dela fazer mal a funcionárias ou ex-funcionárias, pelo contrário, é uma profissional que trabalha há 17 anos e formou várias profissionais, que trabalham, têm suas clínicas, ganham seu dinheiro e são muito gratas ela por isso. [...] A umbanda não faz despacho e manda para a casa de ninguém. Não se faz despacho e manda, a umbanda é uma religião que profetiza a paz, Deus e o bem do próximo. Isso claramente mostra uma visão distorcida do que é a religião.

De acordo com a Polícia Civil, o inquérito está sendo presidido pelo delegado diretor da Seccional da Sacramenta, Arthur Nobre. Por meio da assessoria do investigador, foi informado que a proprietária da clínica apontada pela vítima prestará depoimento à polícia nos próximos dias.

Segundo a assessora Raquel Valente, a versão dela será prestada posteriormente ao depoimento de um grupo de ex-funcionárias que também alegam ter recebido "despachos" semelhantes ao que foi descrito por Nathália Rodrigues. Ao menos três delas serão ouvidas nesta quarta-feira (27).

Macumba ->  (instrumento de percussão) e macumbeiro são usados de forma pejorativa, mas também nomeiam um culto religioso de matriz africana e seus praticantes, que buscam dar novo sentido às palavras.

Casamento suspenso
A podóloga Nathalia Rodrigues estava com casamento marcado para o dia 17 de dezembro e, após o trauma do ocorrido, decidiu adiar a data. Ela também iria se formar em enfermagem no início de 2023, mas decidiu adiar os estudos.

"Eu e meu noivo estávamos planejando tudo, casaria em Mosqueiro porque nosso sonho era casar na praia. Era algo que sonhamos juntos e não vou conseguir ficar entregue nesse momento. Nas fotos e filmagens, não quero me lembrar desse momento assim (sem cabelo)", afirmou.

Após o ocorrido, a podóloga conta que está com medo de sair de casa, diante das ameaças.

"Estamos com medo do que possa acontecer com a gente. Não estamos saindo de casa e quando fazemos isso, tentamos sair em grupos maiores para tentar nos proteger".

Não acredito que chegou a esse nível de fazer uma coisa dessas. Conseguiram que eu interrompesse meu sonho de me formar na faculdade e o meu casamento, atingiram todas as áreas da minha vida. Psicologicamente mexeu com minha aparência, quando eu olhar no espelho e vir que não tenho cabelo. Não quero casar dessa forma porque sempre vou lembrar de tudo que passei quando olhar as fotos.


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