Uma pesquisa australiana com quase 5 mil crianças relaciona a incidência de sobrepeso e obesidade infantil com a negligência paterna, embora o porquê disso ainda seja desconhecido. Diversos pesquisadores que associam a saúde psíquica com doenças físicas já apontaram que a figura paterna tem grande relevância no desenvolvimento infantil. A verdade é que carinho, atenção e tempo de qualidade podem ter consequências na formação do indivíduo. Sabemos que, nos dias atuais, o tempo de sobra é artigo de luxo, porém é preciso estar atento às necessidades dos pequenos. Nunca é sobre a quantidade de tempo e sim sobre a qualidade!
A psicoterapeuta Helen Mavichian, especializada em crianças e adolescentes, lembra que o pai ausente não é somente aquele que abandonou os filhos ou que se separou e, por isso, não os vê todos os dias. Para ela, o pai ausente é aquele que não contribui para a formação e educação dos filhos. “Com frequência recebo em meu consultório pacientes que não convivem com o pai nem aos finais de semana, mesmo morando na mesma casa. Contam que eles trabalham muito durante a semana e os finais de semana usam o tempo livre para praticar esportes e passear. Essas crianças e adolescentes 90% das vezes relatam que quando crescerem não querem ter a mesma profissão do pai e afirmam que serão dedicados à família e aos futuros filhos”, comenta.
Quando os pequenos não têm contato com o pai?
No Brasil, quase 100 mil crianças nascidas em 2021 não têm o nome do pai no registro civil. Os motivos são vários, mas a grande questão é que há muitas crianças sem uma figura paterna presente, o que pode gerar sentimentos negativos e frustrações dos filhos frente a essa situação.
Algumas escolas aboliram de seus calendários as famosas apresentações de dia dos pais e de dia das mães também. Outras deixaram de confeccionar lembrancinhas com os pequenos em homenagem nessas datas comemorativas. Mas, mesmo assim, a publicidade durante essa época destaca opções de presentes e comemorações especiais. E quem não tem um pai ou uma figura paterna, como fica? Tem como "fugir" do bombardeio sobre a data? Os adultos precisam estar atentos para ajudar os pequenos a lidar com essas demandas.
Veja abaixo 5 dicas da especialista Helen Mavichian para auxiliar as crianças nesse momento:
1 - Ensine a criança sobre família
Ensine a criança que um pai nem sempre precisa ter o mesmo sangue que ela e que as famílias não são todas iguais: algumas crianças são adotadas, outras criadas por familiares, algumas devido à perda ou abandono paterno são criadas por padrastros e outras são formadas só por figuras femininas ou maternas. Mas todas essas são modelos normais de família.
2 - Tenha ou seja para a criança um ponto de apoio durante essa data
É um desafio para uma criança compreender que, por não ter um pai ou ter um pai ausente, ela será "excluída" das comemorações e preparativos para a data. Proponha para a criança que outras pessoas possam fazer o papel de celebrar esse dia junto com ela, seja a mãe, um avô, tio … deixe ela escolher alguém que tenha um significado importante para ela e possa representar a figura paterna e não só nessa data especial.
3 - Escute a criança
Os adultos acreditam que as crianças têm as respostas para tudo assim como eles, mas não. As crianças possuem dúvidas que, aos nossos olhos, podem parecer pequenas. Escute-as com atenção para que fiquem desmotivadas a verbalizar o que sentem. É importante criar um ambiente acolhedor onde eles consigam perguntar sem medo tudo o que causa dúvidas e ansiedade.
4 - Explique a situação
De acordo com cada idade, vale a criança saber a verdade sobre o que acontece em suas vidas. Lembre-se de abordar o assunto sempre de acordo com a idade e entendimento da criança. Por mais frustrante e dolorosa que seja a história para uma mãe ou um adulto responsável, é necessário cuidado para não transferir essa dor e frustração para a criança (por exemplo, um pai que abandonou a família).
5 - Entenda e respeite as emoções da criança
Cada criança lida com as comemorações de uma maneira diferente. Existem crianças que tiveram contato com o pai ou uma figura paterna, as perderam e podem apresentar um comportamento mais ansioso e explosivo nessas datas. Por outro lado, existem aquelas que nunca presenciaram tal figura em suas vidas e podem demorar ou nunca questionar. É importante estar atento às mudanças de comportamento nesse período e acolher os pequenos.
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