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sábado, 20 de agosto de 2022

'Visitar a Europa é um privilégio, não um direito humano': os países da UE que estão fechando as portas para turistas russos


Quase seis meses após o início da invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, as portas de alguns países da União Europeia (UE) começam a se fechar para os cidadãos russos.

Os governos da Estônia e da Finlândia estão liderando uma iniciativa que busca impedir o acesso de turistas russos ao espaço Schengen de livre circulação, que inclui 22 países membros da União Europeia, além da Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça.
"Não é correto que os cidadãos russos possam viajar, entrar no espaço Schengen europeu, ser turistas, ver as paisagens, enquanto a Rússia está matando pessoas na Ucrânia. Isso está errado", disse na terça-feira (16/08) a primeira-ministra da Finlândia, Sanna Marin, durante uma entrevista coletiva em Oslo, capital da Noruega.

A posição dela foi reforçada pela primeira-ministra da Estônia, que escreveu no Twitter:
"Visitar a Europa é um privilégio, não um direito humano".

E acrescentou:

"É hora de acabar com o turismo da Rússia agora".

Desde a invasão da Ucrânia, a União Europeia proibiu voos provenientes e com destino à Rússia.

Mas as fronteiras terrestres permaneceram abertas, de modo que muitos russos viajaram por terra para a Finlândia e a Estônia, dois países da União Europeia com os quais a Rússia faz fronteira, e de lá pegaram voos para outros destinos do espaço Schengen.

Na semana passada, a emissora pública finlandesa YLE informou que empresas russas estão oferecendo traslados terrestres de São Petersburgo, a segunda maior cidade da Rússia, para os aeroportos de Helsinque e Lappeenranta, na Finlândia, de onde podem voar para vários destinos europeus.

Restrições à circulação
Alguns países da União Europeia, como a Letônia, começaram a suspender a emissão de vistos para turistas russos devido à guerra, mas essas medidas são ineficazes sem uma decisão que afete todos os membros do espaço Schengen.

De acordo com as regras dessa zona de livre circulação, o turista deve solicitar um visto do país que pretende visitar, mas, quando o obtém, pode entrar no espaço Schengen por qualquer um dos países membros e transitar livremente por 90 dias durante um período de 180 dias.

Espanha, Itália e Grécia são os três países que mais emitem vistos de turista para cidadãos russos.

No mês passado, a Finlândia e a Estônia fizeram um apelo para abordar o tema de forma conjunta dentro da União Europeia, para fechar o que consideram uma "brecha" nas sanções impostas à Rússia que permite que seus cidadãos viajem por terra, enquanto estão proibidos de voar ou viajar de trem para a União Europeia.

No caso da Finlândia, que havia mantido suspensa a emissão de vistos a cidadãos russos devido à pandemia de covid-19, voltou a emiti-los em julho passado, embora em quantidades muito inferiores ao que emitia antes.

No entanto, o governo já anunciou planos para reduzir o número de agendamentos para solicitações de visto na Rússia — de 1 mil para 500 por dia, dos quais apenas 100 serão destinados a turistas.

Enquanto isso, a primeira-ministra, Sanna Marin, disse que a questão dos vistos para os cidadãos russos deve ser discutida pela União Europeia.

Conforme noticiou a emissora YLE, isso deve acontecer em 31 de agosto, durante a cúpula dos ministros das Relações Exteriores da Europa.

"Acho que nas futuras reuniões do Conselho Europeu, esse tema vai surgir ainda com mais força. Minha posição pessoal é que o turismo deve ser restringido", disse Marin à YLE.

Objeções em Moscou… e na Alemanha
Os apelos para proibir o turismo russo geraram indignação na Rússia, e não apenas no Kremlin.

Nas redes sociais, algumas figuras da oposição questionaram a ideia, considerando que alimenta a propaganda antiocidente do governo — e não facilita uma solução para o conflito na Ucrânia.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou a iniciativa, dizendo que com o tempo "o bom senso se manifestará e aqueles que fizeram tais declarações cairão em si".

A proposta também encontrou forte resistência do chanceler alemão, Olaf Scholz.
"Esta não é a guerra do povo russo. Esta é a guerra de Putin, e temos que ter muita clareza sobre este assunto", declarou Scholz durante uma entrevista a jornalistas na capital da Noruega, Oslo, na terça-feira.

"É importante que entendamos que há muita gente fugindo da Rússia porque discorda do regime russo", acrescentou.

Mas aqueles que defendem a proibição não estão alheios a essas nuances, como indicou a própria primeira-ministra finlandesa.

"Não é uma questão preto no branco, também existem diferentes tons de cinza. Também há muita gente na Rússia que é contra a guerra, que está sob ameaça...", afirmou.

Para resolver esse dilema, a Finlândia está considerando a criação de um visto humanitário que poderia ser concedido a cidadãos russos que precisem fugir do país ou viajar para a Europa para participar de atividades relacionadas a grupos de pressão ou trabalho jornalístico.

Já o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tem uma posição muito clara sobre o tema, que manifestou na última segunda-feira em entrevista ao jornal americano The Washington Post.

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