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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

'Ouvi muito que pobre não adianta estudar', diz estudante de Ribeirão Preto que ganhou bolsa para doutorado nos EUA

Do ensino público, Claudia Rodrigues Silveira foi uma das 12 pessoas selecionadas no mundo para fazer PhD na University of Central Florida, em Orlando. Família busca ajuda para custear passagens.

A estudante de matemática Claudia Rodrigues da Silveira, de Ribeirão Preto (SP), se prepara para dar um dos passos mais importantes da sua vida acadêmica. Ela foi uma das 12 pessoas no mundo selecionadas para uma bolsa de estudos de doutorado na University of Central Florida, em Orlando, uma das mais renomadas universidades dos EUA.

De origem humilde, Claudia sempre estudou em escola pública e conta que chegou a ser desacreditada por muita gente até chegar onde está hoje.

"Meu primeiro empecilho foi a desigualdade social. Eu ouvi muito que pobre não adianta estudar e nunca vai crescer, porque portas são fechadas quando a gente não tem dinheiro.

A educação não é acessível pra gente. Ouvi muita gente falando isso, vi muita gente desistindo de estudar. Foi ainda mais um gás de tentar mostrar que a gente, sim, pode estudar, a gente, sim, pode e tem o direito".
Claudia teve nos pais os maiores incentivadores. Eles mesmos não puderam estudar muito, mas não faltou estímulo para que a filha pudesse seguir os sonhos.

"A educação vem transformando a minha vida de forma bem intensa. Minha mãe é empregada doméstica e eu vejo ela com uma rotina pesadíssima e lutando para que eu possa estudar. Meu pai, nas férias, me levava na biblioteca Altino Arantes, aqui em Ribeirão Preto, e pegava emprestado um livro pra eu ler e eu sempre achei muito bonito esse ato de presentear e incentivar a leitura".

Trajetória
Claudia estudou em escola pública durante a vida inteira. Em certos, momentos, ela conta, chegou a ouvir que não deveria se dedicar tanto, pois não chegaria longe.

"Por vir de ensino básico público, já ouvi muita gente falando que eu sou pobre e não tem porque estudar, não vai mudar nada".

Antes de ser aprovada no curso de matemática na Universidade de São Paulo (USP) em 2014, a jovem fez cursinho popular com aulas dadas por voluntários a estudantes de baixa renda. Ela mal acreditou quando recebeu do irmão a notícia que tinha passado.

"Meu irmão me ligou e foi minha maior felicidade. Foi algo que, se não tivesse acontecido, provavelmente eu ia começar a trabalhar e desvirtuar totalmente do ensino".
De lá para cá, Claudia vem conquistando uma vitória atrás da outra. O diploma da universidade a levou a um mestrado no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), no Rio de Janeiro (RJ), uma das instituições referência no mundo.

Passo a passo, a estudante foi trilhando seu caminho até a maior conquista: o doutorado nos Estados Unidos, sonho de criança, como diz a mãe, Odésia Silveira.

"Deu até tremedeira quando ela falou que passou na prova pra estudar nos Estados Unidos, que é o sonho dela. A sensação é muito boa, queria falar para o mundo inteiro. Estou muito orgulhosa e muito preocupada, por conta da situação financeira".

Família sem recursos para passagens:

Empregada doméstica, Odésia está atualmente sem trabalho porque tem se dedicado a cuidar do marido, João Marinho da Silveira, diagnosticado com mal de Alzheimer.
Claudia compartilha a preocupação da mãe com as despesas iniciais da viagem. Embora vá estudar de graça, o custo com a passagem e a estadia inicial em Orlando são por conta dela.

"Meu pai tem Alzheimer, e minha mãe precisa estar em casa, porque meu pai demanda atenção 24 horas. Ela busca um emprego pra lavar e passar roupa em casa para conseguir cuidar do meu pai e gerar renda. Eu quero oferecer pra eles o melhor assim que eu puder. Eu quero que eles sejam muito felizes também". Apesar das dificuldades, a estudante sabe que a viagem vai ser apenas mais um obstáculo que vai ter de enfrentar.

"A Claudia criança era uma menina muito sonhadora, muito estudiosa, muito carinhosa e que gostava muito de estudar. A Claudia adulta é realizadora de sonhos e que sonha muito alto ainda, em busca de levar o nome do Brasil e da ciência mundo afora".

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