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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

A polêmica por trás da estética que faz camiseta do Brasil de tendência


Nas últimas semanas, vídeos sobre a brazilcore, brazilian aesthetic ou estética brasileira inundaram as redes sociais, especialmente no TikTok, com uma série de produções e roupas nas cores verde e amarela, que remetem à bandeira do Brasil. Essa movimentação começou depois que várias fashionistas europeias se apropriaram e reproduziram o estilo tradicionalmente usado na periferia e, majoritariamente, discriminado por uma sociedade racista e elitista que, inclusive, sempre marginalizou essa galera. 

A moda da periferia como precursora de tendências: 
Apesar de ser precursora de muitas febres que consumimos hoje, como aquelas que fazem referências aos anos 2000, mais conhecidas como Y2K, o surgimento de novas tendências nunca é direcionado para as periferias. Quando isso acontece, é sempre em uma posição subalterna, vista como inferior e feia, pelo menos quando se tratam de corpos racializados e periféricos vestindo. Mas, do contrário, é lindo e maravilhoso, como as tranças em pessoas brancas.

Esse comportamento também se reflete em quem produz conteúdos e escreve sobre moda através de uma perspectiva elitizada e excludente. Em março desde ano, por exemplo, para onde estavam voltados os olhos de quem consome notícias de moda quando a marca Piña, do estilista carioca Abacaxi, fez um desfile nas ruas de Madureira, com peças cheias de recortes cut-out, amarrações, transparência e combinações de cores como verde e amarelo e azul e branco e, claro, a bandeira do Brasil?

Para a historiadora e comunicadora Giovanna Heliodoro, “brazilcore” é o nome dado para uma estética que, mais uma vez, surge nas favelas. “[Essa tendência] só passa a ser reconhecida quando as pessoas brancas e ou da ‘elite da moda’ passam a utilizá-la. Não é de hoje que, entre becos e vielas, vejo muitos jovens usando camisetas do Brasil ou de outros times esportivos do mundo afora. Infelizmente, quando os nossos usam é feio, brega e démodé, mas precisamos reconhecer que, dentro da favela, surgem muitas tendências que nem sequer são reconhecidas como moda”, opina Giovanna em comentário em publicação no Instagram. 

“Historicamente dizendo, isso não é nada recente, mas por [2022] ser um ano de Copa do Mundo e de eleições, o assunto se tornou mais potente lá no Twitter. Só que é importante lembrar que a bandeira do Brasil não é partidária; é um bem coletivo que foi tomado pela direita e nós precisamos nos reaproveitar disso”, finaliza. Como afirma o idealizador da Piña, quem foi que disse que a bandeira do Brasil não é nossa? 

Despolitizando e ressignificando as cores do Brasil:
Em um cenário político nacional em que, nos últimos quatro anos, a bandeira e camiseta do Brasil foram tomados pela direita, despolitizar e ressignificar as cores da bandeira brasileira é, sim, um ato urgente e revolucionário.

Para o rapper Djonga, que já usou a camiseta da seleção brasileira em seus shows em posição contrária ao atual governo, despolitizar o que foi politizado também é revolucionário. Durante uma apresentação no Mineirão, em abril deste ano, o cantor disse que “eles se apropriam do tema, do nosso hino, de tudo”, mas reforça que “tudo é nosso e nada deles”.

A cantora Anitta também deu um novo sentido para as cores da bandeira em sua apresentação no Rock in Rio Lisboa, mas, neste caso, ela quis representar a cultura do funk e da periferia brasileira nos palcos europeus.

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