O coletivo ‘Mulheres Negras Decidem’ manifestou repúdio à escolha feita pelo presidente Lula para preencher a vaga do ministro aposentado Luís Roberto Barroso no STF. A organização criticou a nomeação de Jorge Messias, advogado-geral da União, para a Suprema Corte.
Segundo o coletivo, a decisão ignora a
população negra e perpetua a ausência histórica de juristas negras na
composição do tribunal. O grupo sustenta que essa falta de representatividade é
um reflexo do racismo estrutural presente no sistema de justiça brasileiro. A
manifestação ocorreu logo após o anúncio de Lula e coincidiu com o Dia da
Consciência Negra e a véspera da Marcha das Mulheres Negras em Brasília.
MUITO PAPO, POUCA AÇÃO - A indicação de
Messias é interpretada como a continuidade de um padrão que desconsidera a
competência e a legitimidade de juristas negras no país. O grupo acusa a gestão
de ignorar a base eleitoral que a apoia: “As mulheres negras decidem nas urnas.
E Lula decide, mais uma vez, não nos ouvir”.
Em mais de 130 anos de história, o STF
nunca contou com uma mulher negra em sua composição, tendo tido apenas três mulheres
brancas como magistradas.
A nota divulgada pelo grupo ressalta que
“pela 12ª vez desde a redemocratização, o Brasil se recusa a reconhecer a
excelência, a legitimidade e o legado das mulheres negras que sustentam este
país”.
Para a organização, a opção pelo novo
ministro representa um sinal de desrespeito, e “mais uma porta fechada. Mais um
gesto de desrespeito. Mais um capítulo do racismo estrutural que atravessa o
sistema de justiça brasileiro e a vida das mulheres negras”.
RACISMO
ESTRUTURAL E “ENTENDIMENTO ANTI-REPUBLICANO” - O coletivo argumenta que a
escolha pelo presidente evidencia um “entendimento anti-republicano da função
constitucional” da Corte, pois as questões debatidas no STF impactam
diretamente a vida dos maiores grupos demográficos do Brasil: mulheres e
pessoas negras.
Contudo, a interpretação da lei,
permeada pelo racismo e pela misoginia institucional, mantém-se atrelada a uma
“perspectiva única, excludente e discriminatória”. Isso resultaria na
paralisação ou na interpretação restrita de agendas consideradas fundamentais,
como a justiça reprodutiva e a igualdade salarial entre gêneros.
Ao optar por mais um homem branco para um mandato que pode se estender por até 30 anos, o presidente reforça um modelo de poder historicamente excludente. Por fim, o movimento promete: “Na próxima terça-feira, em Brasília, marcharemos por representação no Poder Judiciário, por mais de nós, e por uma Presidência da República que não nos despreze e nos escute”.

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