Em uma declaração explosiva que incendiou as redes sociais, o deputado federal Paulo Bilynskyj (PL-SP), aliado de Jair Bolsonaro, defendeu a divisão do Brasil em dois países distintos: um “Brasil do Norte”, englobando Norte e Nordeste, e um “Brasil do Sul”, formado por Centro-Oeste, Sudeste e Sul.
A proposta foi
justificada como uma solução para as “divergências ideológicas irreconciliáveis”
entre eleitores de Lula (PT) e Bolsonaro (PL). A proposta de Bilynskyj: um
Brasil, duas nações”. É simples: Norte e Nordeste formam o Brasil do Norte, que
vota no Lula. Centro-Oeste, Sudeste e Sul viram o Brasil do Sul, que apoia
Bolsonaro. Cada um segue seu caminho”, declarou Bilynskyj, delegado licenciado
da Polícia Civil de São Paulo, durante a entrevista.
Ele argumentou que
o tamanho do Brasil favorece “tendências autoritárias” e que a divisão
corrigiria distorções na representação política, como a igualdade de senadores
por estado, independentemente da população. O apresentador Junior Masters
questionou se isso não seria separatismo, ao que o deputado respondeu: “Por que
não? Países grandes tendem ao controle centralizado. Dividir é liberdade.” A
ideia ignora dados eleitorais: em 2022, Bolsonaro venceu no Norte (51,03% dos
votos) e no Centro-Oeste, enquanto Lula liderou no Nordeste. No Sul e Sudeste,
a disputa foi acirrada.
Ainda assim, a
fala de Bilynskyj encontrou eco entre apoiadores radicais do ex-presidente, mas
também provocou críticas contundentes. Contexto político: tensões e influência
externa. A proposta surge em meio a um cenário de alta polarização. O
julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta
tentativa de golpe em 2022, aliado às sanções comerciais impostas pelo governo
de Donald Trump, intensificou o clima de confronto. Eduardo Bolsonaro, também
do PL-SP, esteve recentemente em Washington, articulando com aliados de Trump
para pressionar por medidas contra o STF, incluindo tarifas de até 50% sobre
exportações brasileiras. A retórica de Bilynskyj parece alinhada a esse
movimento, que busca mobilizar a base bolsonarista para as eleições de 2026.
No X, a declaração
foi amplificada por influenciadores como Allan dos Santos, que, exilado nos
EUA, chamou a divisão de “solução genial para escapar da tirania petista”. Por
outro lado, usuários contrários acusaram o deputado de “traição à pátria”, com
memes ironizando o “Brasil do Sul” como um “paraíso de milicianos e fake news”.
Um post viral comparou a ideia a “dividir a pizza porque não concordamos no
sabor”. Reações políticas e jurídicas. A classe política reagiu com veemência.
O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), anunciou que pedirá investigação
no STF por possível crime contra a segurança nacional. “Essa proposta é um
ataque à Constituição e à unidade do Brasil”, afirmou.
O Brasil é um só,
e quem não aceita isso que vá morar em Miami.”Juristas reforçam que a separação
territorial exigiria um plebiscito nacional, conforme o artigo 14 da
Constituição, além de aprovação no Congresso – um cenário improvável. “É uma
fantasia jurídica. A Constituição define o Brasil como indivisível”, explica a
professora de Direito Constitucional da USP, Ana Carolina Clève. Movimentos
separatistas, como o “O Sul é Meu País”, já tentaram plebiscitos no passado,
mas nunca ultrapassaram 2% de apoio popular. Impactos econômicos e sociais. A
Confederação Nacional da Indústria (CNI), que ontem (23) divulgou dados sobre o
pior agosto da construção civil em nove anos, alertou que discursos divisivos
agravam a crise econômica. “A polarização já afeta investimentos.
Imagina o caos de
uma divisão territorial”, disse o economista da CNI, Marcelo Azevedo. O Sul e
Sudeste concentram 60% do PIB, mas dependem de mercados internos no Norte e
Nordeste. Uma separação criaria barreiras comerciais e logísticas inviáveis. Nas
redes, a polêmica também expôs tensões regionais. Usuários do Nordeste postaram
mensagens como “O Sul não vive sem nosso açaí e nossa mão de obra”, enquanto
outros defenderam a unidade: “Somos um país, com defeitos, mas juntos.” Um teste
para 2026? Bilynskyj, eleito com 1,2 milhão de votos em 2022, é conhecido por
falas provocadoras e por sua proximidade com os Bolsonaro. Analistas políticos
veem a proposta como uma estratégia para inflamar a base bolsonarista, que se
sente acuada pelo STF e por sanções internacionais. “É mais retórica que plano
concreto, mas o risco está em normalizar ideias extremistas”, avalia o
cientista político Claudio Couto, da FGV.
Enquanto o STF monitora o caso, a polêmica no X continua crescendo, com memes, acusações e defesas acaloradas. A proposta de dividir o Brasil pode não sair do papel, mas já conseguiu seu intento: reacender o debate sobre o futuro de um país profundamente polarizado.

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