O alcoólico na ativa marca o seu comportamento pela negação, sua defesa característica, e também pela racionalização e pela projeção. Hábil em manipular situações e pessoas, acaba por não identificar o que é verdadeiro e o que é falso, movimentando-se em um mundo de desonestidade crescente que desintegra a sua vida.
Aliás, a história ladeira abaixo do alcoólico é a
história da desonestidade consigo mesmo e com os outros, desonestidade esta que
dói porque ele sabe que não é a pessoa que pretendia ou pensava ser. Na vida do
alcoólico, a desonestidade se torna um hábito, uma adição tão tenaz e falaciosa
como o alcoolismo em si e, se o alcoólico não encontra o seu verdadeiro eu,
então ele necessita da honestidade dos outros membros do grupo para encontrar a
sua própria honestidade.
Nos grupos, o alcoólico participa de reuniões informais, sem diálogo, onde relata as experiências vividas no período do seu alcoolismo ativo e também da sua recuperação. Ao fazer o seu depoimento, o alcoólico fala para outros companheiros que, como ele, tiveram vivências semelhantes e aí se muda o curso do seu comportamento habitual. Ao invés da negação, passa a fazer o jogo da verdade, jogo inteiramente novo e radicalmente diferente daquele a que estava acostumado e isso pela simples razão de que não pode mentir para os que o ouvem e nem mesmo tentar manipulá-los.
Os que participam de uma reunião de A.A. têm, usualmente, uma longa experiência, ouviram muitas e muitas histórias de outros alcoólicos e conhecem bem as falácias da negação e do ocultamento, além do fato de já terem saído desse padrão de comportamento. É nesse novo jogo que o alcoólico vai descobrir aspectos desconhecidos do seu ser, da sua vida. A honestidade, desenvolvida dessa maneira, cresce e se expande para outras áreas das suas vidas.
Nas salas de reuniões dos grupos estão alcoólicos que escutam e que compreendem os fatos e também as circunstâncias relatadas exatamente por serem igualmente alcoólicos, por terem essa “qualidade” de serem alcoólicos; outras pessoas, sem essas experiências, não poderiam fazer o mesmo. O alcoolismo dos que ouvem é posto a serviço daquele que faz o seu depoimento, o que serve, ao mesmo tempo, para reavivar a atenção para o fato de serem doentes e para a necessidade de permanecerem dentro do programa de recuperação. Ou seja, dando recebem e recebendo dão. É uma maravilhosa via de mão dupla. É o crescimento na procura dos iguais.
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