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quinta-feira, 9 de junho de 2022

Cientistas usam leite materno para tratar Covid-19 em mulher com imunodeficiência


Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recorreram a um método nada convencional para o tratamento da Covid-19 em uma paciente com uma doença genética rara que torna o sistema imunológico incapaz de combater vírus e outros agentes causadores de doenças.

Durante uma semana, ela foi orientada a ingerir 30 mililitros de leite materno – de uma doadora vacinada contra a doença – a cada três horas. Após esse período, o resultado do teste de diagnóstico molecular (RT-PCR), que indica o material genético do vírus, veio negativo pela primeira vez há mais de 120 dias.

O caso foi relatado em artigo publicado na revista científica Viruses, a partir de projetos apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Nesses pacientes, o impacto de agentes infecciosos como vírus pode levar a quadros de infecção crônica com o risco de morte.

“Tenho acompanhado essa paciente desde criança e quando ela me contou que estava com Covid-19 eu fiquei muito apreensiva. O erro inato da imunidade que ela apresenta deixa seu sistema de defesa todo desregulado. Sua resposta inflamatória é deficitária, há poucas células se mobilizando para o local da inflamação e baixa produção de anticorpos”, conta a pediatra Maria Marluce dos Santos Vilela, professora da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e autora principal do artigo.

A pesquisadora explica que o sistema imune humano e dos demais mamíferos produz normalmente cinco tipos de anticorpos: as imunoglobulinas IgM, IgG, IgA, IgE e IgD. Pessoas com essa doença – conhecida como síndrome de imunodesregulação – geralmente têm pouco IgE e, em alguns casos, ausência completa de IgA, o principal anticorpo neutralizante de vírus e outros agentes de doenças, que costuma estar presente no leite materno, nas secreções respiratórias e gastrintestinais.

Além disso, esses pacientes podem apresentar uma produção muito baixa de IgG, normalmente o anticorpo mais abundante no sangue e responsável por reconhecer e neutralizar microrganismos estranhos (antígenos) com os quais o organismo já teve contato prévio.

Há apenas 157 casos do tipo descritos no mundo, caracterizados em estudo publicado no Journal of Allergy and Clinical Immunology, do qual a especialista é coautora.

“Nossa estratégia foi manter a paciente isolada em casa, sob os cuidados da mãe – que monitorou a oxigenação, temperatura corporal e a nutrição. No hospital ela poderia contrair uma infecção bacteriana, o que tornaria o quadro ainda mais grave. E, desde o diagnóstico, em março de 2021, nós a acompanhamos periodicamente por vídeo”, conta a médica.

Nos primeiros 15 dias de infecção a paciente apresentou febre, perda de apetite e de peso, tosse e indisposição. Para a surpresa da equipe médica, o pulmão e demais sistemas mantiveram-se inalterados.

Passados dois meses, o quadro permanecia o mesmo e o grupo então decidiu testar, em parceria com o Hemocentro da Unicamp, o tratamento com plasma de convalescente, ou seja, a transfusão de anticorpos produzidos por pessoas que haviam se curado da Covid-19, principalmente os do tipo IgG.

O procedimento foi feito e promoveu melhora dos sintomas e redução de marcadores inflamatórios no sangue. Mas, após 15 dias, o exame de diagnóstico molecular permanecia positivo e a paciente seguia apresentando sintomas leves e sinais do que os médicos chamam de adinamia, que é uma grande fraqueza muscular associada a processos infecciosos prolongados.

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