Em entrevista à CNN Rádio, a fundadora e diretora executiva do Vozes da Educação, Carolina Campos, avaliou que os dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) já são “muito preocupantes”, mas que seriam ainda mais “potencializados com os dois anos de pandemia de Covid-19 não contabilizados no período do estudo”.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou nessa quarta-feira (13) uma década de pesquisas com indicadores comparáveis sobre a saúde dos escolares do 9º ano do ensino fundamental.
O estudo traz uma análise inédita das quatro edições da PeNSE (2009, 2012, 2015 e 2019), com informações sobre alimentação, atividade física, cigarro, álcool, outras drogas, situações em casa e na escola, saúde mental, saúde sexual e reprodutiva, entre outros.
De acordo com Carolina Campos, embora os dados sejam importantes indicadores, eles já podem ser considerados desatualizados. “Posso dizer com tranquilidade que a pandemia potencializou muitos desses dados que a gente viu crescer. Se achamos ruim, pode estar pior”, disse.
Um dos dados que apontou crescimento é o de número de estudantes insatisfeitos com próprio corpo: a proporção dos que se julgavam gordos ou muitos gordos foi de 17,5% para 23,2%, enquanto a dos que se consideravam magros ou muito magros foi de 21,9% a 28,6%.
“A adolescência já é um período histórico em que o ser humano deve aprender a lidar com uma série de modificações corporais”, apontou Carolina Campos. “Mas, se essa falta de aceitação já estava acontecendo em 2019, com a pandemia a gente viu isso explodir.”
A educadora lembrou que o Brasil integra o ranking de países com o maior número de dias letivos nos quais as escolas ficaram totalmente fechadas, de acordo com relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
“Isso fez com que um estudante que tinha doze anos voltasse pra escola com catorze, pulando etapas escolares e de contato com o próprio corpo”, argumentou. “Angústia, ansiedade e insegurança podem surgir a partir disso.”
Por isso, a diretora do Vozes da Educação apontou que o momento é de trabalhar as questões pedagógicas, mas sem deixar de olhar para o lado comportamental. “O desafio é enorme para não pressionar esse escolar, que deve lidar com a saúde mental e ainda recompor as aprendizagens que foram perdidas durante esses últimos dois anos”.
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