A equipe do "InfoAmazonia" vencedora do Prêmio Rei da Espanha de Jornalismo Ambiental 2022 denuncia o legado ecológico destrutivo do presidente Jair Bolsonaro e defende o dever de informar de forma "humana, simples e clara", para que o mundo entenda a importância de "manter a floresta de pé".
Bolsonaro "dá voz aos crimes ambientais que já aconteciam" na Amazônia" e "para os quais antes existia algum controle" e contra os quais "havia instituições funcionando", afirmou Juliana Mori, diretora editorial do "InfoAmazonia", em entrevista à Agência Efe.
A jornalista coordenou a equipe multidisciplinar autora do premiado projeto "Engolindo Fumaça", publicado em agosto do ano passado e que consiste em uma série de reportagens sobre como a poluição gerada pelos incêndios na Floresta Amazônica afetou a saúde da população local e agravou o quadro de pacientes com covid-19.
O trabalho investigativo, realizado em meio à pandemia, com todas as dificuldades decorrentes da crise sanitária, durou nove meses, com participação de jornalistas, pesquisadores, geógrafos e analistas de dados.
Trata-se de uma realidade complexa, refletida por diversos ângulos pelo "InfoAmazonia", que foi criado em 2012 com um objetivo claro: divulgar o que ocorre no ecossistema que ocupa 60% do território brasileiro, incluindo ameaças como ocupação irregular de terras, desmatamento e incêndios.
"Há muito desconhecimento sobre a Amazônia" na sociedade, afirmou Eduardo Geraque, editor do projeto.
O jornalista considera que, para romper essa tendência, é necessário um jornalismo ambiental com uma "visão transversal", que, sobretudo, "escute e fale com os povos da floresta".
Renata Hirota, responsável pela análise de dados do projeto, afirmou que, além disso, é "muito importante contextualizar" e "conhecer profundamente os dados com os quais se lida".
"Engolindo Fumaça", além de se apoiar em dados empíricos, para os quais foi preciso criar até um modelo estatístico próprio, também conta histórias daqueles que sofrem com a devastação da floresta.
Mori ressaltou que o jornalismo ambiental precisa servir para que as pessoas "entendam a importância da floresta", porque o que acontece com ela gera repercussões em todo o país e no mundo inteiro.
Os dados, contudo, não apontam para um cenário otimista. O desmatamento alcança recorde após recorde, os incêndios florestais aumentaram, e órgãos ambientais tiveram orçamentos desde a chegada do presidente ao poder reduzidos de forma drástica.
"O legado que Bolsonaro está deixando na Amazônia nestes quatro anos é muito ruim", porque está sendo fomentada uma "cultura de que ocupar terras ou invadir reservas indígenas está certo", criticou Gerarque.
Mori lamentou que, nos últimos anos, a Amazônia foi pivô de um "bombardeio" de notícias falsas que promovem políticas com um enfoque desenvolvimentista e extrativista apoiadas pelo atual governo.
Para deter essa corrente, o InfoAmazonia tem um projeto especial contra as 'fake news' relacionadas ao meio ambiente no estado do Amazonas.
Contudo, Mori, de certa forma, também faz uma 'mea culpa', pois entende que, "por muito tempo, o jornalismo ambiental se dirigiu apenas para si mesmo"
"Muitas vezes, falou apenas para as pessoas do 'nós amamos a natureza' e acabou não chegando à população", explicou.
Mori afirmou, por outro lado, que nos últimos anos os alertas sobre a mudança climática tornaram cada vez maior o interesse geral por temas ambientais.
"As pessoas estão tentando acompanhar o assunto, e o jornalismo deve passar essa informação de forma clara e simples. Sair um pouco dessa coisa especializada e, realmente, comunicar o que importa da crise climática", concluiu. EFE
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