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terça-feira, 10 de maio de 2022

Pesquisadores avançam na busca por um anticoncepcional para homens

Cientistas dos EUA apresentaram resultados do estudo de um contraceptivo masculino não hormonal que foi capaz de prevenir a gravidez em camundongos.

Historicamente, as opções de métodos contraceptivos são maiores para as mulheres em relação aos homens. Enquanto elas contam com controles de natalidade que vão de pílulas orais a adesivos e dispositivos intrauterinos, as principais opções para eles são a camisinha e a vasectomia.

Como resultado, também pende com peso desigual sobre as mulheres a responsabilidade de prevenir a gravidez, além do desconforto e efeitos colaterais dos contraceptivos femininos disponíveis.

Pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, apresentaram resultados do estudo de um contraceptivo masculino não hormonal que foi capaz de prevenir a gravidez em camundongos, sem apresentar efeitos colaterais. Os achados foram apresentados em reunião da American Chemical Society (ACS).

Atualmente, os homens contam com duas opções eficazes de controle de natalidade: preservativos masculinos e vasectomia, sendo o procedimento cirúrgico considerado uma forma permanente de esterilização masculina. Embora as vasectomias às vezes possam ser revertidas, a cirurgia de reversão é cara e nem sempre bem-sucedida.

A necessidade de um contraceptivo eficaz e duradouro, semelhante à pílula anticoncepcional para mulheres tem mobilizado a comunidade científica. “Os cientistas tentam há décadas desenvolver um anticoncepcional oral masculino eficaz, mas ainda não há pílulas aprovadas no mercado”, disse o pesquisador Abdullah Al Noman, que fez parte do estudo.

Entre os compostos avaliados atualmente em ensaios clínicos, estão aqueles que têm como alvo o hormônio sexual masculino testosterona. No entanto, alterações hormonais podem levar a efeitos colaterais como ganho de peso, depressão e aumento dos níveis de colesterol de lipoproteína de baixa densidade (conhecida como LDL).

“Queríamos desenvolver um anticoncepcional masculino não hormonal para evitar esses efeitos colaterais”, diz Noman, estudante de pós-graduação.

Como foi desenvolvido o anticoncepcional

Para desenvolver o contraceptivo masculino não hormonal, os pesquisadores visaram uma proteína chamada receptor alfa do ácido retinóico (RAR-α). Esta proteína faz parte de uma família de três receptores nucleares que se ligam ao ácido retinóico, uma forma de vitamina A que desempenha papéis importantes no crescimento celular, diferenciação (incluindo formação de espermatozoides) e desenvolvimento embrionário.

A eliminação do gene RAR-α em camundongos machos os torna estéreis, sem efeitos colaterais imediatos. Embora outros cientistas tenham desenvolvido compostos orais que inibem todos os três membros da família RAR (RAR-α, -β e -γ), causando esterilidade reversível em camundongos machos, a equipe de Minnesota buscou encontrar uma droga que fosse específica para RAR-α e, portanto, menos provável de causar efeitos colaterais.

Assim, os cientistas examinaram de perto as estruturas de RAR-α, -β e -γ ligadas ao ácido retinóico, identificando diferenças estruturais nas formas de ligação dos três receptores se ligam. Com essas informações, eles projetaram e sintetizaram aproximadamente 100 compostos e avaliaram sua capacidade de inibir seletivamente o RAR-α nas células.

Eles identificaram um composto, que foi nomeado YCT529, que inibiu RAR-α quase 500 vezes mais potente do que RAR-β e -γ. Quando administrado oralmente a camundongos machos por quatro semanas, o YCT529 reduziu drasticamente a contagem de espermatozoides e foi 99% eficaz na prevenção da gravidez, sem efeitos colaterais observáveis. Os camundongos poderiam gerar filhotes novamente de 4 a 6 semanas após o recebimento do composto.

De acordo com a pesquisadora Gunda Georg, coordenadora do estudo, o YCT529 começará a ser testado em ensaios clínicos em humanos no terceiro ou quarto trimestre de 2022. “Como pode ser difícil prever se um composto que parece bom em estudos com animais também vai dar certo em testes em humanos, atualmente estamos explorando outros compostos também”, disse ela em comunicado.

Pesquisa brasileira

Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) descobriram, a partir do estudo de uma proteína existente no espermatozoide, dois novos alvos que, combinados, podem ser utilizados para o desenvolvimento de anticoncepcionais para homens.

O foco da pesquisa é a EPPIN, sigla em inglês para inibidor de protease epididimária, cuja função principal é modular capacidade dos espermatozoides de nadar até o óvulo, chamada de motilidade. Cientistas procuram desenvolver anticoncepcionais que atuem na motilidade do espermatozoide, uma vez que é mais difícil chegar a um fármaco capaz de impedir a produção do gameta masculino.

Na pesquisa conduzida na Unesp, camundongos receberam três tipos de anticorpos para verificar se eles se ligavam à EPPIN e bloqueavam a motilidade dos espermatozoides. Ao se ligarem à molécula-alvo, os anticorpos mostraram em quais domínios da proteína deveria haver uma intervenção para reduzir ou impedir a motilidade do espermatozoide.

Os resultados da pesquisa foram publicados no periódico científico Molecular Human Reproduction.

(Com informações da American Chemical Society e da Agência Fapesp)


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