Nesse curto período, o que se viu foi uma gestão buscando afirmar sua marca em meio a grandes desafios estruturais, financeiros e, sobretudo, políticos. A cidade parece viver, hoje, uma espécie de redemoinho institucional, onde o esforço local tenta se sobrepor à ausência de apoio das esferas estadual e federal — um cenário bastante complexo administrativamente e politicamente falando, que já dá sinais da necessidade de grandes esforços por parte do gestor e sua equipe, caso contrário poderá comprometer a capacidade de entrega a médio e longo prazo.
A oposição
do atual governo municipal aos grupos que comandam o Estado e o país tem gerado
uma espécie de isolamento político com impactos concretos. Enquanto outras
cidades baianas conseguem avançar com projetos estruturantes por meio de
convênios e repasses, Ilhéus assiste à estagnação de obras estaduais e à
dificuldade de conseguir programas federais importantes. É uma desconexão que
transcende o debate partidário e se não solucionado afetará diretamente o
cotidiano da população.
A falta de interlocução com Salvador
e Brasília não é apenas um problema apenas diplomático — é um entrave prático,
que limita a ação do poder público local em áreas essenciais. Em tempos de
orçamento apertado, a autonomia municipal tem limites claros. Os recursos
próprios não são suficientes para enfrentar os gargalos históricos de Ilhéus,
muito menos para garantir investimentos robustos em saúde, infraestrutura ou
mobilidade. A cidade precisa estar no radar dos grandes centros de decisão e
isso exige articulação, presença e habilidade política e não poderia deixar de
lembrar os esforços realizados pela prefeito atual na busca incansável dessa
solução.
Além disso, parte dos recursos
disponíveis ainda enfrentou obstáculos judiciais: bloqueios determinados por
decisões anteriores travaram milhões de reais, comprometendo o planejamento
inicial da gestão, não podemos ser levianos até porque entendemos muito bem
como funciona o jogo político. “Para meus amigos TUDO, para meus inimigos
NADA”. Assim, ocorre em todas as esferas de governos.
O tom adotado pela atual gestão tem
sido o da reconstrução, com a narrativa de que Ilhéus está sendo retirada do
abandono. A mensagem tem força simbólica, principalmente junto a parte da
população que se sentia desassistida. No entanto, essa leitura precisa ser
equilibrada com a realidade: Ilhéus vive um momento delicado, que exige mais do
que discursos de resgate. A gestão atual tem que executar o tripé ação -reflexal-ação.
O que está em jogo agora é a capacidade da cidade de se reintegrar ao mapa
político da Bahia e do Brasil.
O caminho, daqui em diante, não será
simples. O governo local terá que se desdobrar para construir pontes com
aqueles que hoje representam os centros de poder, mesmo que isso signifique
dialogar com campos políticos distintos. Ilhéus precisa de recursos, de
projetos estratégicos, de integração com programas estaduais e federais — e
isso não virá apenas com esforço interno. A governabilidade real, nos tempos
atuais, depende da capacidade de articular, ouvir e negociar.
Cem dias são apenas o começo. Mas já deixam clara uma lição: a reconstrução de Ilhéus não será feita apenas com trabalho interno. A cidade precisa romper o isolamento, reencontrar seu lugar no debate estadual e nacional e, acima de tudo, buscar o que é de direito — sem ruídos, sem barreiras partidárias, com maturidade institucional. - Artigo do professor e presidente do Curso Gabaritando, Emenson Silva.
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